Morreu Michel Hidalgo, antigo selecionador francês que levou França à conquista do Campeonato da Europa de 1984, o primeiro grande título da seleção gaulesa. De acordo com o L’Équipe, o antigo jogador e treinador, que tinha completado 87 anos no passado domingo, morreu na sequência de uma doença prolongada em nada relacionada com o coronavírus.

Michel Hidalgo começou por ser jogador. Arrancou a carreira no Le Havre, onde esteve durante duas temporadas até se mudar para o Stade Reims, onde acabou por conquistar a então Division 1, atual Ligue 1 e uma Supertaça francesa. Foi também no Stade Reims que disputou a primeira final da Taça dos Campeões Europeus, em junho de 1956, contra o Real Madrid de Di Stéfano e Gento: Hidalgo até marcou um golo, já na segunda parte, mas os merengues acabaram por vencer a competição pela primeira de 13 vezes, entre formato antigo e atual.

Michel Hidalgo era o selecionador francês em 1984, quando França venceu Portugal nas meias-finais do Europeu antes de conquistar a competição

O antigo médio deixou o Stade Reims no ano seguinte, em 1957, e assinou pelo Mónaco: no Principado voltou a ser campeão nacional mais duas vezes, conquistou outra Supertaça e ainda ganhou duas Taças de França. Em 1966, depois de nove anos no Mónaco e aos 33 anos, decidiu terminar a carreira de jogador — com apenas uma internacionalização pela seleção francesa — e assumiu pouco depois o comando técnico da equipa B dos monegascos. Foi neste período, entre o fim da carreira e os primeiros passos enquanto treinador, que assumiu a presidência da União Nacional de Futebolistas Profissionais, o sindicato francês de jogadores, e foi um dos principais impulsionadores da fundação da FIFpro, a Federação Internacional de Associações de Futebolistas Profissionais.

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Chegou à seleção francesa no início dos anos 70, ainda como adjunto, e assumiu a liderança da equipa em 1976, substituindo o romeno Stefan Kovács, numa altura em que França estava a atravessar um período de crise e de resultados pouco satisfatórios. Com Michel Platini como estrela absoluta da equipa, Hidalgo conseguiu implementar um futebol ofensivo e que colocou a seleção francesa no topo da Europa: chegou às meias-finais do Mundial 82, onde perdeu com a RFA nas grandes penalidades, e conquistou o Euro 84 em casa, ao bater Espanha na final de Paris para garantir o primeiro grande título francês. No caminho até ao jogo derradeiro no Parque dos Príncipes, a seleção de Michel Hidalgo eliminou Portugal nas meias-finais, numa eliminatória que só ficou resolvida no prolongamento — Jordão bisou nessa partida, num ano em que a Seleção Nacional incluiu o avançado, o guarda-redes Manuel Bento, o defesa Eurico e a revelação Fernando Chalana no onze ideal do Europeu.

A era dourada do Marselha que se torna cada vez mais negra: corrupção, subornos e adversários drogados

Depois da vitória histórica, que assinalou aquela que até à dobradinha 1998/2000 foi a página mais bonita do futebol francês, Michel Hidalgo passou o comando técnico da seleção a Henri Michel e assumiu o cargo de diretor técnico da federação nacional. Em 1986 regressou ao patamar dos clubes, aceitando o desafio de ser diretor desportivo do Marselha. Foi na cidade do sul de França, onde ainda vivia e onde esta quinta-feira acabou por morrer, que se tornou um autêntico ídolo para os adeptos do clube: o Marselha viveu entre o final dos anos 80 e início dos anos 90 o auge da sua existência, com a conquista de vários títulos nacionais e internacionais, incluindo um tetracampeonato francês e a primeira Liga dos Campeões, em 1993 (depois de já ter sido finalista vencido em 1991).

Mas foi também em Marselha, no Marselha e por causa do Marselha que acabou por ter a fase mais negra da carreira no futebol. Em 1998, foi condenado a uma pena suspensa de oito meses e a uma multa de 200 mil francos devido ao escândalo de resultados combinados que abalou o clube francês e que teve o então presidente, Bernard Tapie, como grande protagonista.