O vice-presidente do Brasil afirmou na quarta-feira que a posição do governo é de defesa do “isolamento e distanciamento social” face ao novo coronavírus, contrariando o Presidente do país, Jair Bolsonaro, que pediu o fim do “confinamento em massa”.

Segundo o vice-Presidente brasileiro, Hamilton Mourão, Bolsonaro pode “não se ter expressado da melhor forma”. “A posição do nosso governo, por enquanto, é uma só: isolamento e distanciamento social. Isso está a ser discutido. Pode ser que o Presidente não se tenha expressado da melhor forma, mas o que ele procurou mostrar é a preocupação que todos nós temos com a segunda onda nesta questão do coronavírus”, disse Mourão à imprensa local.

Em causa está o apelo feito na noite de terça-feira pelo chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, que pediu às autoridades estaduais e municipais a reabertura de escolas e comércio, e o fim do “confinamento em massa”.

Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o encerramento do comércio e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?”, questionou Jair Bolsonaro, sublinhando que o país deve “voltar à normalidade”.

Naquela que foi a sua terceira mensagem ao país sobre o novo coronavírus, transmitida na rádio e televisão, Bolsonaro declarou que a vida “tem de continuar” e que a situação “passará em breve”. Contudo, as declarações de Bolsonaro contrariam as recomendações do seu próprio governo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na sua página da internet, o Ministério da Saúde brasileiro aconselha a população a evitar aglomerações e a reduzir as deslocações para o trabalho, defendendo o “trabalho remoto” e a “antecipação de férias em instituições de ensino”, especialmente em regiões com transmissão comunitária do vírus, ou seja, quando já não conseguem identificar a trajetória de infeção.

O pronunciamento de Bolsonaro causou polémica nas classes médica e política, que condenaram o seu discurso.

De acordo com Mourão, as preocupações do chefe de Estado prendem-se com questões económicas e com o eventual problema da falta de abastecimento de produtos às zonas mais pobres do país.

É a forma como o Presidente Bolsonaro trabalha, agora ele tem essa preocupação enorme com o verdadeiro desmantelamento da economia e, em consequência, com as pessoas que vivem nas áreas mais pobres do nosso país que, da noite para o dia, (…) podem chegar ao supermercado e não ter o que comprar, porque não está a ser produzido nada”, acrescentou o vice-presidente.

“A minha visão por enquanto é que temos de terminar esse período, em que estamos em isolamento, para que haja calibragem [equilíbrio] da forma como está a avançar a epidemia no país e, a partir daí, se possa gradativamente ir libertando as pessoas dentro de atividades essenciais”, defendeu Hamilton Mourão.

O Brasil tinha registado na quarta-feira 57 mortos e 2.433 infetados pelo novo coronavírus, sendo que, pela primeira vez desde o início da chegada da pandemia ao país sul-americano, foram registadas mortes fora dos epicentros do surto no país – São Paulo e Rio de Janeiro.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou perto de 450 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 20 mil.