O presidente interino da Juventude Popular (JP) considerou esta quinta-feira que existe “falta de transparência” nos dados apresentados pela Direção-Geral da Saúde relativamente ao contágio por Covid-19, apontando que os números não são os mesmos que os autarcas relatam.

Em comunicado enviado às redações, Francisco Mota, questiona como é que “autarcas anunciam em alguns territórios mais 70% de casos do que aqueles que são anunciados pela Direção-Geral da Saúde (DGS)”, e “como é que é possível, para as autarquias e para as autoridades, atuar com uma desorganização desta natureza”.

Existem dois caminhos possíveis, incompetência ou camuflagem de números de uma forma deliberada”, aponta o líder da estrutura que representa os jovens do CDS-PP, considerando que esta situação constitui “um problema gravíssimo de confiança dos portugueses nas instituições públicas e no Governo”.

Na quarta-feira, a diretora-geral da Saúde garantiu que os números de mortos e infetados por Covid-19 que constam do boletim da Direção-Geral da Saúde são “absolutamente certos”, mas ressalvou que “há dados mais finos, nomeadamente por concelho, que podem não chegar preenchidos no formulário”.

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“E só conseguimos colher informação dos que estão preenchidos, mas quero dizer que estamos a trabalhar a nível local para obter essa informação à medida que o tempo passa vamos chegar à totalidade”, frisou Graça Freitas.

No mesmo dia, o primeiro-ministro salientou que a DGS agrega a informação inscrita no sistema pelos profissionais do setor relativa à doença Covid-19 e “não produz números”.

Na ótica do líder da JP, “já não se trata da necessidade de um esclarecimento cabal, porque esse o Governo não o consegue fazer consequentemente”, e “a confirmar-se esta falta de transparência nos dados” é “muito complicado perceber qual a percentagem de pessoas hospitalizadas, de que faixa etária são e quais os sintomas reais”.

O governo desvaloriza, mas temos que testar, testar e testar, pois só assim poderemos ter uma noção real do número de pessoas infetadas e só assim poderemos desenhar um plano de ação que esteja em linha com a realidade e que não seja apenas baseado em projeções”, defende Francisco Mota.

Considerando que “Portugal parece falhar de forma gritante nesta abordagem”, o presidente da JP denuncia que “existem pessoas que ficam à espera 72 horas para realizar o teste de despiste, simplesmente porque o sistema não tem capacidade de resposta”.

“No entanto, sabemos que existe capacidade de resposta em laboratórios privados, em projetos como o ‘drive in’ em várias cidades do país, que muito poderão contribuir para uma melhoria deste índice. Esta não é a hora para embirrações ideológicas e de debate pueril de público contra privado, ou vice-versa”, salienta.

Francisco Mota aproveita ainda para criticar o primeiro-ministro quando recusa falta de material no Serviço Nacional de Saúde para fazer face a esta pandemia.

“Desafio o senhor primeiro-ministro a ter contacto com a realidade e com o desespero vivido dentro das unidades de saúde. Dizer que tudo vai bem e que nada faltará não corresponde aos relatos feitos por aqueles que estão na linha da frente desta guerra biológica”, assinala.

Portugal registou os primeiros casos confirmados de Covid-19 no dia 2 de março, encontrando-se em estado de emergência desde as 0h de 19 de março e até às 23h59 de 2 de abril.

Esta quinta-feira, subiu para 60 o número de mortes associadas ao novo coronavírus, mais 17 do que na quarta-feira, segundo o boletim epidemiológico da DGS, registando 3.544 casos de infeção.