Nas primeiras feiras internacionais, em Hong Kong e Nuremberga, os visitantes que se aproximavam do stand perguntavam: “O que é isto? É madeira? É papel?” Nunca tinham visto nada igual e queriam tocar nos carrinhos, nos puzzles e nos animais misteriosamente leves. A resposta, fácil para um português, estava na cortiça. E é essa mesma cortiça, aplicada a um universo novo, o principal cartão de visita da Elou.

O nome da marca pronuncia-se “hello” e é de facto um olá que apresenta ao mundo um novo tipo de brinquedos. São helicópteros e foguetões, blocos de encaixe e jogos de equilíbrio, barcos à vela e animais aquáticos para o banho, lápis de cera em forma de bolota e até um ginásio de bebé com o respetivo tapete – tudo feito em cortiça, com um design moderno e ao mesmo tempo um regresso ao antigamente. Porque nenhum brinquedo acende, não leva pilhas nem faz barulho. São as mãos pequenas e as cabeças com uma imaginação inversamente proporcional que têm de lhes dar vida.

Todos os brinquedos têm a certificação CE , obtida depois de vários testes, desde físicos a químicos, e até mesmo de flamabilidade. © Elou

“Estes brinquedos estão ao nível do sentir, não da intoxicação de produtos onde reina a novidade, a quantidade e os botões que fazem tudo”, diz António Aguiar, o fundador da marca. A trabalhar no ramo da distribuição de brinquedos há mais de três décadas, o empresário de 60 anos que até aqui lidava sobretudo com importação e revenda, deu por si à procura de alternativas à oferta tradicional. “Para fugir ao que havia, comecei a pensar em soluções de brinquedos que fossem sustentáveis, virados para o futuro, e acima de tudo que pudessem ser produzidos com uma matéria-prima ecológica, 100% nacional, e que não fossem facilmente copiáveis por asiáticos.” Não foi preciso olhar muito longe, ou não estivesse a empresa instalada na Lourosa, “cidade capital da transformação da cortiça”, como se lê em placas espalhadas pela Avenida Principal. Afinal, se a cortiça já era usada na construção, na aeronáutica e noutros produtos de decoração e moda, porque não trazê-la para o mundo encantado dos mais novos?

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O primeiro ano (2016), “foi sobretudo de investigação e de tentativa e erro”. Instalada no concelho de Santa Maria da Feira, a marca fez parcerias com estabelecimentos de ensino do Norte para desenvolver a linha gráfica e os primeiros protótipos, nomeadamente com a ESAD – Escola Superior de Artes e Design do Porto, e com as universidades de  Aveiro e do Minho, para as componentes pedagógicas e industriais, respetivamente.

A linha gráfica foi estabelecida em parceria com a ESAD do Porto e a marca acabou por integrar um designer da escola na equipa. No futuro, o objetivo é lançar também concursos de ideias a designers nacionais e internacionais que queiram fazer brinquedos em cortiça. © Elou

“Foi preciso afinar técnicas, cortes, moldes, a própria consistência da cortiça”, resume António Aguiar, o primeiro a tecer elogios ao material escolhido: “Além de ser uma matéria- prima amiga, a cortiça é muito sensorial. A textura é confortável, tem o mesmo comportamento no frio e no calor e é um material extremamente leve.” António Xavier, diretor comercial da marca, acrescenta outras qualidades: “São conhecidas as propriedades acústicas da cortiça, por isso com estes brinquedos não há problema de barulhos. E é acima de tudo um material ecológico, pois ao contrário da madeira – a alternativa sustentável neste meio, quando é proveniente de florestas certificadas –, não implica o abate de árvores.” No catálogo da Elou está mesmo o desenho de um sobreiro sorridente para explicar que a extração da cortiça é um processo natural e que passados sete anos (por vezes nove), a árvore está pronta para ser novamente despida. “É uma matéria-prima nobre, que passa por um processo lento e está muito alinhada com o conceito de economia circular de que tanto se fala, em que temos de dar tempo à natureza para se regenerar”, remata o fundador da marca. “Se não fosse um produto tão bom, a rolha não continuaria a ser o vedante de excelência.”

Proveniente do Alentejo e do Algarve, a cortiça da Elou não está sozinha. Em certos brinquedos, como os carrinhos de puxar ou os cilindros que fazem um totem quando se empilham, são usados pontualmente outros materiais naturais e nacionais como fio
de algodão, feltro de lã, borracha natural e madeira com certificação FSC. De Portugal para o mundo, a marca nasceu virada para o mercado internacional e exporta já para 17 países – com o Japão e o chamado Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) à cabeça –, mas em 2019 resolveu finalmente dizer “olá” ao seu país natal e chegou a lojas como A Vida Portuguesa, El Corte Inglês e ao site Giros.

O cavalinho – perdão –, o caracol de baloiço, um exemplo onde a madeira foi chamada a juntar-se à cortiça. © Elou

Pensados para crianças até aos três anos, mas na verdade sem limite de idade, os brinquedos custam em média 29,90€, sendo que o intervalo de preços é grande. Com 52 referências no catálogo, os valores vão desde os 19,90€ dos aviões aos 249€ do cavalinho de baloiço – um cavalinho que, neste caso, e de certa forma honrando a lentidão do material, não é um cavalo mas sim um caracol.

Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestyle nº6 – Especial 100% português (novembro de 2019).