Poderá ser tomada já esta segunda-feira uma decisão sobre a possível introdução de uma cerca sanitária no  Porto, numa altura em que o concelho conta com 941 casos infetados pelo novo coronavírus. A informação foi adiantada por Graça Freitas, diretora-geral de Saúde, na conferência de imprensa diária.

“O Porto neste momento do ponto de vista dos recursos materiais e humanos que precisa tem estado a receber todo o apoio nacional”. Mas, sobre o “cordão sanitário, ou cerca sanitária, está neste momento a ser equacionado e provavelmente será hoje tomada uma decisão nesse sentido”, uma decisão que será tomada entre as autoridades regionais e as autoridades de saúde nacionais e o Ministério da Saúde, explicou a responsável.

DGS admite cerca sanitária no Porto. Decisão poderá ser tomada esta segunda-feira, disse Graça Freitas

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Contactada pelo Observador, a Câmara Municipal do Porto revela não ter sido ainda informada ou consultada sobre o assunto e adianta não ver qualquer utilidade nesta medida.

“A Câmara do Porto não sabe nada sobre esse assunto, não foi contactada por nenhum Ministério sobre o assunto e ninguém falou com o presidente da Câmara sobre tal e considera inútil neste momento uma medida dessas quando toda a área metropolitana tem uma situação de transmissão na comunidade”, afirmou.

A autarquia diz-se mesmo “surpreendida” pelas afirmações de Graça Freitas esta manhã e afirma que tal medida é “absurda” num momento em que o foco de infeção se encontra generalizado na comunidade em toda a região do país. A câmara do Porto realça ainda que a medida não foi pedida pela autarquia, pela Proteção Civil do Porto ou pela Proteção Civil Distrital.

“Caso a medida, inútil e extemporânea fosse tomada, tornaria impossível o funcionamento de serviços básicos da cidade, como a limpeza urbana (cuja maior parte dos trabalhadores não reside na cidade), como a recolha de resíduos (cuja LIPOR fica fora da cidade), como o abastecimento e acessos a dois hospitais centrais, como os de Santo António e São João estariam postos em causa”, adianta em comunicado.

O executivo municipal atira criticas à DGS e sublinha não poder concordar com uma decisão “baseada em estatísticas sem consistência científica ou fiabilidade, emitidas diariamente pela DGS e cujas variações demonstram a sua falta de fiabilidade“. “Muito menos faz sentido isolar uma cidade quando à sua volta a situação epidemiológica nos concelhos limítrofes é em tudo igual”, acrescenta.

A câmara do Porto conclui o comunicado dizendo que “deixa de reconhecer autoridade à senhora Diretora Geral da Saúde, entendendo as suas declarações de hoje como um lapso seguramente provocado por cansaço”.

Ao Observador, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia afirmou rejeitar “em absoluto esta solução” e entende “não ser a resposta adequada para a situação”.

O Observador tentou ouvir esclarecimentos por parte da Administração Regional de Saúde do Norte, que até ao momento não quis prestar qualquer comentário sobre esta matéria.

Recorde-se que Ovar é a única cidade do país com cordão sanitário devido à Covid-19.

Autoridades de saúde já tinham dito que cerca sanitária “não era eficaz”

Quem também foi apanhado de surpresa pelas declarações de Graça Freitas foi o presidente da Câmara Municipal de Gondomar, Marco Martins, que coordena também o Plano Distrital de Proteção Civil do Porto.

“Essa questão foi colocada há uma semana e um dia quando no domingo passado foi ativado o Plano Distrital de Emergência. O Porto, como sabe, foi o primeiro distrito a ativá-lo. Na altura, colocámos à consideração da autoridade de saúde se justificava para todo o distrito, ou para parte do distrito — nomeadamente nos concelhos onde já na altura, há uma semana, havia o maior número de infetados e que entretanto, ao longo da semana, se veio a confirmar no perímetro do primeiro anel do Porto o maior número de infetados —, esse cerco”, explicou Marco Martins, em declarações à Rádio Observador.

Autoridades não recomendaram cerca sanitária no Porto, diz Marco Martins

“A autoridade de saúde achou que não justificava, que não valia a pena”, disse Marco Martins. “A autoridade de saúde achou e transmitiu que já não era eficaz, que já não valia a pena fazer essa diligência, porque já não ia ter resultados positivos, como aliás não teve grande — foi o argumento que foi usado — em Ovar, não se viu grande efeito. Portanto, com base nisso, a autoridade de saúde é que tem competência para se pronunciar e obviamente nós temos de acreditar e confiar naquilo que as instituições nos dizem.”

O autarca de Gondomar destacou também que “deveriam ser intensificadas as normas ditadas pelo Governo com base a serem mais confinadas as pessoas, obrigar mais as pessoas a ficarem em casa, e dar mais poderes às forças de segurança para fiscalizar e fazer cumprir essas normas”.

Embora não tenha tido conhecimento formal da possibilidade de impor a cerca sanitária ao Porto — não é claro se se trata da cidade ou da área metropolitana —, Marco Martins confirma que, “se houver validação, ou das autoridades de saúde, ou da tutela, obviamente já está feito um plano de ação para que ele se possa implementar em colaboração estreita com as forças de segurança”.