“Sentimos falta do futebol e da vida que temos antes mas agora é o momento de ouvir os nossos cientistas, os nossos médicos, os nossos enfermeiros. Vocês são a minha família no futebol e vamos fazer tudo o que for possível para que se sintam melhor. Iremos voltar mais fortes, melhores, talvez um pouco mais gordos. Fiquem em casa, estejam seguros”, destacou Pep Guardiola, treinador espanhol do Manchester City, num vídeo divulgado pelo clube inglês com o objetivo de aproximar a equipa aos adeptos numa fase em que quase todas as provas europeias estão paradas e a maioria dos países encontra-se em Estado de Emergência ou quarentena.

Isenções, subsídios e moratórias. Espanha tem um novo pacote de medidas económicas e sociais

Com algum humor à mistura, falando nos quilos que se podem ganhar com este novo “estilo de vida”, Guardiola, conhecido por ser uma figura com palavra nos problemas sociais que toquem também a Espanha, deixou uma mensagem de conforto mais ponderada, sem qualquer conotação política, a dar alento a quem está na linha da frente e a passar ao lado de tudo o resto. No entanto, outras figuras do mundo do futebol têm visões diferentes sobre o segundo ponto e não pouparam políticos e políticas num país em estado crítico com a Covid-19.

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“És escória Pablito! Puto demagogo e mentiroso. Beija a bandeira e não te limpes com ela, seu pedaço de m****!”, atirou nas redes sociais García Calvo, antigo campeão espanhol de 44 anos formado no Real Madrid e que passou ainda por Valladolid e Atl. Madrid, numa reação ao vice-presidente do governo espanhol e secretário geral do Podemos, Pablo Iglésias, que no domingo tinha voltado a recorrer ao artigo 128 da Constituição (“Toda a riqueza de um país nas suas distintas formas e seja de quem for está subordinada ao interesse geral”).

Como explica o El Mundo, têm sido várias as figuras ligadas ao desporto a manifestarem o seu desagrado com algumas das ações e palavras das autoridades espanholas no combate ao novo coronavírus. Pepe Reina, guarda-redes que joga hoje nos ingleses do Aston Villa mas que esteve até janeiro no AC Milan, já tinha demonstrado isso mesmo, depois de ter revelado sintomas semelhantes à Covid-19. E algumas das informações fizeram mesmo com que fosse associado nos comentários como simpatizante do Vox, como explicou o El Confidencial.

“Na semana passada tive todos os sintomas do coronavírus. Foram dias difíceis em que tomei todas as precauções para não infetar quem vive comigo. Aqui [Inglaterra] os testes não são feitos a não ser que estejas muito mal e isto só pode ser um problema,mas agora estou bem. É difícil, é como se um camião me tivesse atropelado. Nós, jogadores, somos privilegiados. É fácil para mim estar isolado, as pessoas que realmente têm ‘tomates’ são aquelas que vivem num apartamento de 70 metros quadrados com três filhos, esses são os verdadeiros heróis”, disse. “É uma vergonha, estão a ser ridículos”, comentou no domingo, com um vídeo de uma conferência.

“Não sei porque razão não havia a ideia de que Espanha poderia ter algo semelhante ao que se estava a passar em Itália, não sei o porquê de não conseguirmos prever este aspeto. O futebol tomou as decisões que tinha de tomar antes do resto. O cenário exigia isso. Mas agora isso é secundário, o que interessa é a saúde de todos. Dos mais velhos que levantaram este país a seguir à guerra e que muitos estão a morrer. Parece-me ingrato dizer que é um vírus que só afeta os mais velhos, já morreram pessoas que conhecia e pelas quais tinha muito carinho na zona de Madrid. Estamos tristes, preocupados”, comentou na semana passada Julen Lopetegui, antigo selecionador e treinador do Real que está hoje no Sevilha. Também o antigo internacional Ivan Campo, que passou pelo Real e pelo Valencia, fez vários tweets a propósito dos testes não fiáveis que chegaram ao país da China.

Também o tenista Feliciano López, sem especificar o destinatário da mensagem, criticou “as pessoas que têm pouca vergonha”, numa ideia semelhante ao companheiro de seleção Fernando Verdasco, que escreveu “não acredito nem dou crédito ao que vejo” partilhando um tweet do Vox que recuperava uma conferência de 31 de janeiro de Fernando Simon, diretor geral da saúde do país (também ele infetado), que Espanha não iria ter muitos mais casos do que aqueles que tinham sido diagnosticados. Antes, Fernando Alonso, antigo campeão da Fórmula 1, tinha também criticado a gestão da crise por parte do governo espanhol, ao passo que o basquetebolista Alfonso Reyes, também ele infetado, apontou a mira à intervenção do Ministro dos Transportes, José Luis Ábalos.