O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, diz estar “profundamente orgulhoso” da decisão de Portugal de regularizar, durante a pandemia da Covid-19, a situação de todos os estrangeiros que tenham pedidos pendentes junto das autoridades portuguesas — incluindo imigrantes, refugiados e requerentes de asilo.

Numa entrevista ao jornal Sete Margens publicada esta terça-feira, Guterres elogia “a decisão que foi recentemente tomada em relação aos imigrantes em Portugal, no sentido de permitir que todos aqueles que tenham pedido a regularização sejam tratados como cidadãos portugueses“.

“Gostaria de ver esse exemplo multiplicar-se por esse mundo fora”, acrescentou o secretário-geral da ONU.

Na entrevista, Guterres voltou a repetir o seu apelo a um “cessar-fogo global” para vencer a pandemia. “Não é um desejo ingénuo“, assegura. “Corresponde a uma necessidade absoluta: enquanto durar um conflito é completamente impossível ter uma estratégia para combater a doença.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para o secretário-geral da ONU, a suspensão dos conflitos é uma “condição necessária”, embora “não suficiente”, para combater a pandemia. “Sobretudo em países que são sempre muito frágeis em todos os outros aspetos, onde os serviços de saúde são praticamente inexistentes, um cessar-fogo é uma condição para que seja possível ter alguma eficácia no combate ao vírus.”

Guterres destaca que já houve várias forças envolvidas em conflitos em países como a Síria, o Iémen, a Líbia, as Filipinas, os Camarões e a Colômbia que “afirmaram estar disponíveis para um cessar-fogo e algumas delas proclamaram mesmo um cessar-fogo unilateral”.

Na Síria há neste momento um cessar-fogo em Idlib, mas nós gostaríamos de o ver estendido à totalidade do território; aconteceu na Líbia onde, infelizmente, após uma primeira declaração de aceitação, a situação no terreno piorou de novo”, revelou Guterres.

O medo de “milhões de mortos” em África

O secretário-geral da ONU apela também a uma “estratégia concertada e coordenada” a nível global para combater o vírus — e lamenta que o mundo continue “a assistir a estratégias diversas em diferentes países e, por vezes, dentro de um país estratégias completamente diferentes nas suas diversas regiões ou cidades, como no caso dos Estados Unidos”.

“Por outro lado, não há suficiente volume de recursos postos à disposição do Sul global, dos países em desenvolvimento, que têm sistemas de saúde extremamente frágeis”, acrescenta Guterres. “Eu tenho a maior preocupação com o que pode acontecer, nomeadamente no continente africano, em que corremos o risco de haver uma explosão da doença com consequências trágicas em milhões e milhões de pessoas infetadas e milhões de mortos.”

Guterres defende também que é “indispensável apoiar, ou melhor, responder às consequências económicas e sociais da epidemia“.

“A nossa estimativa é que se trata da necessidade de um pacote de estímulos representando dois dígitos da percentagem do Produto Interno Bruto global ou da soma dos Produtos Internos Brutos para obter um valor global”, considera o secretário-geral da ONU.