Luca Di Nicola, 19 anos, italiano que trabalhava como assistente de chef em Londres, não tinha outros problemas de saúde que explicassem a forma galopante como a Covid-19 o atacou. Há uma semana que se sentia mal, tanto que procurou o médico de família. Mas a resposta foi que Luca não tinha nada com que se preocupar desde que tomasse paracetamol. Morreu apenas 30 minutos depois de ter sido internado.

O jovem piorou e começou a sentir dores no peito. “Chamaram a ambulância, reanimaram-no mas os pulmões colapsaram, cheios de água e sangue”, descreveu uma tia citada pela Sky News. “Entubaram-no e hospitalizaram-no nos cuidados intensivos, mas meia hora depois, morreu”, prosseguiu. Só um exame post-mortem provou que, afinal, não era uma pneumonia fulminante. Era Covid-19.

Ainda no Reino Unido, Ismail Mohamed Abdulwahab, 13 anos, morreu esta segunda-feira de manhã de Covid-19 apesar de ser saudável antes de ter sido infetado pelo novo coronavírus.

Natural de Brixton, Ismail tinha testado positivo para a doença no dia anterior, foi colocado num ventilador e posto em coma induzido. Mas veio a morrer sem que se percebesse a origem da gravidade do seu quadro clínico. Estava sozinho quando sucumbiu porque a família não o podia acompanhar na sala reservada aos doentes de Covid-19.

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Os casos de Luca e Ismail juntam-se ao de uma menina de 12 anos que morreu na Bélgica três dias depois de ter sido internada com queixas de febre provocada pelo novo coronavírus. Steven Van Gucht, virologista e chefe do comité científico composto para fazer frente à pandemia, admitiu em conferência de imprensa que o caso está a afetar a equipa que faz frente à pandemia: “Afeta-nos muito, como pais e pessoas”.

É a mais jovem morte na Europa pelo novo coronavírus e adensa a lista de pacientes com menos de 20 anos que sucumbiram à Covid-19 apesar de serem novos e não terem outros problemas de saúde que pudessem complicar o seu quadro clínico.

Em França, por exemplo, uma adolescente de 16 anos morreu na semana passada à conta do novo coronavírus.  Julie começou a sentir os primeiros sintomas da doença a 21 de março e foi internada dois dias mais tarde. De uma simples sensação de cansaço ao falar, escalou para uma insuficiência respiratória cuja origem foi comprovada por uma análise: tinha testado positivo para o novo coronavírus. E morreu na sexta-feira passada.

Nos Estados Unidos, o mesmo fenómeno. Jaquan Anderson, 17 anos, vivia em Nova Orleães, era estudante de liceu, jogador de futebol americano e morreu após ter testado positivo para o novo coronavírus. Na Califórnia, a morte de outro rapaz de 17 anos também começou por ser atribuída à Covid-19, mas o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças disse que o caso era “complexo” e que “pode haver uma explicação alternativa para esta fatalidade”. Mas ainda não disse quais.

Pelo menos dois adolescentes e um bebé. Poderão ser estas as vítimas mais jovens da Covid-19

Algo semelhante aconteceu em Portugal. Vítor Rafael Bastos Godinho, 14 anos, morreu no Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira. Tinha testado positivo para o novo coronavírus, mas as análises provaram que também sofria de uma meningite, o que terá provocado a morte do rapaz. Tal como a CDC tinha dito do rapaz californiano, também a diretora-geral da saúde referiu-se ao caso de Vítor como “um caso complexo” que necessitava de ser analisado.

Todos estes exemplos comprovam as palavras de Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, que lembrou na semana passada que os jovens “não são invencíveis”: “Mesmo que não adoeçam, as escolhas que fazem sobre até onde podem ir pode fazer a diferença entre vida e morte para alguém”, recordou.