O governo timorense recuou e aprovou esta quarta-feira um conjunto de exceções ao regime duodecimal para permitir ao Ministério das Finanças resolver vários “constrangimentos” causados pelas regras mais restritivas inicialmente aprovadas.

As mudanças pretendem agilizar a capacidade do governo para, entre outras questões, responder ao impacto da Covid-19 no país.

A alteração visa permitir realizar a normal atividade do Estado, possibilitando a execução de despesa pública até ao limite fixado no Orçamento Geral do Estado do ano anterior e estabelecer um conjunto de salvaguardas que garantem uma gestão prudente das dotações orçamentais”, referiu o governo em comunicado.

As alterações esta quarta-feira aprovadas permitem “resolver um conjunto de constrangimentos que têm impedido o Estado de cumprir integralmente as suas obrigações, nomeadamente, na resposta à situação atual de emergência provocada pela pandemia Covid-19 e à crise económica relacionada”.

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A alteração ao decreto aprovado em janeiro implica um recuo da postura do Executivo relativamente à forma como se aplica o regime duodecimal, com o governo a tentar até aqui, flexibilizar o regime através de mudanças na lei de orçamento e gestão financeira. Estas exceções tinham sido propostas inicialmente pelo Ministério das Finanças, mas foram retiradas depois do decreto publicado no Jornal da República, deixando o governo com capacidade muito limitada para responder.

Finanças e outros ministérios defendiam que as alterações deviam ser incorporadas no decreto para permitir uma aplicação imediata, mas assessores do Gabinete do primeiro-ministro insistiram que devia ser através de uma alteração da lei de gestão orçamental, opção que vingou. Os pedidos de alteração à lei de gestão orçamental, considerado um diploma estruturante, acabaram por encontrar forte oposição no parlamento onde uma nova maioria questionou a legitimidade do executivo, demissionário desde 23 de fevereiro, para mexer neste tipo de diplomas. Os deputados acabaram por chumbar a tramitação com cariz de urgência desse diploma que ainda não foi votado.

Na reunião desta quarta-feira e também com base numa proposta da ministra interina das Finanças, Sara Brites, o governo aprovou alterações ao decreto sobre a execução do orçamento de 2019 — aplicado em regime duodecimal este ano.

A alteração visa permitir “a realização da despesa relacionada com a prevenção e o combate à Covid-19, com a urgência e agilidade necessárias, designadamente a despesa relacionada com serviços de aviação, e com contribuições para organizações internacionais, antes de verificada a efetiva prestação de serviços ou entrega dos bens”.

Fonte do executivo disse à Lusa que o governo tem estado a negociar com companhias aéreas para assegurar que, apesar da queda no número de passageiros, continuam a ser mantidos voos para Díli para não deixar o país isolado e permitir o transporte de carga, nomeadamente equipamento e produtos médicos.

O governo aprovou ainda o teto de gastos para abril, no valor total de 114,89 milhões de dólares (104,23 milhões de euros), com a previsão de “despesa relacionada com a aquisição de medicamentos e equipamentos para resposta à Covid-19, pagamento de pensões e o pagamento do arrendamento das instalações das missões diplomáticas”. Ficam suspensos durante o estado de emergência despesas relacionadas com viagens locais e ao estrangeiro, organização de formações e seminários e manutenção de veículos.

O governo aprovou ainda esta quarta-feira uma deliberação, apresentada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Dionísio Babo, para a assinatura de um contrato entre o governo de Timor-Leste e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e “para a compra de medicamentos e equipamentos médicos, relacionados com a resposta à epidemia da Covid-19”.

No comunicado não se refere o valor total deste contrato, ainda que Sara Brites tenha referido à Lusa que o custo inicial estimado pelo governo para compras deste tipo de material tenha passado de 11 para 40 milhões de dólares (de 9,98 para 36,31 milhões de euros) devido à especulação no mercado internacional.

Timor-Leste tem um caso confirmado de infeção pela Covid-19 e está em estado de emergência desde sábado.