Vários exames de gastroenterologia, necessários para a prevenção e deteção do cancro do cólon ou colorretal, foram adiados para que a prioridade dos hospitais pudesse ser dada à Covid-19. Mas Rui Tato Marinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, garante à Rádio Observador que os casos urgentes continuam a ser acompanhados. “Estamos muito atentos e todos o dias temos reuniões de manhã para ver quem não pode esperar de modo algum”, disse o também médico no Hospital de Santa Maria, acrescentando que os médicos se sentem preocupados. “Estamos a praticar uma medicina de catástrofe.”

“Estamos a praticar uma medicina de catástrofe”, diz Rui Tato Marinho

Os exames menos urgentes, aqueles “de que a vida das pessoas não depende”, foram adiados para que a atenção dos hospitais fosse dada aos doentes com Covid-19, mas também por uma questão de contenção do vírus: ou seja, para que pessoas em situação oncológica, ou com suspeitas, não tivessem de se deslocar ao hospital e arriscar uma infeção pelo novo coronavírus.

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Não vamos parar os exames de maneira nenhuma“, assegura Rui Tato Marinho, acrescentando que os médicos estão a seguir os conselhos da Organização Mundial da Saúde (OMS) de proteção. “Só estamos a fazer exames urgentes, por exemplo, de uma pessoa que deita sangue pela boca, que suspeitamos que tem um cancro que não pode esperar. Neste momento é esta a nossa filosofia para nos protegermos a nós, profissionais de saúde, e as pessoas”, explicou ainda.

Como “cada caso é um caso”, “há cancros de que as pessoas não vão morrer” e que, por isso, “podem esperar um mês ou dois, ou podem fazer outro exames”. Mas há outros casos “que achamos que têm de ser feito no próprio dia ou a seguir”. Nessa situação, os profissionais de saúde “atuam”. “Obviamente que estamos preocupadíssimos com isto, estamos a praticar uma medicina de catástrofe.”

O médico frisa ainda que continuam a ser feitas consultas por telefone para acompanhamento dos doentes e que as cirurgias mais prioritárias não deixaram de acontecer. Mas como recuperar dos atrasos impostos às consultas? Rui Tato Marinho pede que seja criada uma “task force para recuperar os casos que esperam, por exemplo, dois meses”. Segundo o especialistas, há entre 350 e 400 gastroentrologistas que fazem os exames agora adiados, mas o país tem “capacidade de fazer mais”. “Mas precisamos de condições, de espaços, de mais anestesiologistas, que se liberte mais dinheiro para fazer estes exames”, considera. O Hospital de Santa Maria, onde trabalha, decidiu avançar com obras num espaço da unidade de saúde de forma a ampliar a capacidade logística de fazer mais exames.