“Importa manter a malha apertada ao novo coronavírus. Quer através da contenção social, quer do robustecer dos meios”. O secretário de Estado da Saúde, António Sales, garantiu esta quinta-feira que haverá um reforço dos meios à disposição dos profissionais de saúde para combater a pandemia da Covid-19, numa altura em que admite que 1.124 profissionais de saúde estão infetados. “Estaremos em condições de duplicar a capacidade de ventilação”, garantiu na conferência de imprensa diária que acompanha a atualização dos dados sobre Portugal.

O reforço de materiais e meios técnicos é, neste momento, o trunfo do Governo para garantir que o SNS estará preparado se a curva começar a subir de forma mais abrupta (o que não tem acontecido até aqui). A lista é longa: já esta quinta-feira vão ser distribuídas seis mil zaragatoas, sendo que, amanhã, chegam ao país outras 80 mil. No total, estão encomendadas 400 mil, sendo que as restantes têm entregas previstas no decorrer das próximas semanas. Chegam também mais 200 mil testes na próxima semana, disse o secretário de Estado.

Quanto a ventiladores, os números também são redondos. “Estamos em condições de duplicar a nossa capacidade de ventilação. Foram oferecidos 400 ventiladores invasivos, muitos dos quais já chegaram aos hospitais, e recebemos 140 não invasivos a título de empréstimo, que também já foram distribuídos. Foram também adquiridos mais 900 ventiladores pela administração central (144 chegarão este fim de semana)”, disse o secretário de Estado. Ontem, já tinha esclarecido que, em circunstância normais, Portugal tem 1142 ventiladores à disposição. Ou seja, estará agora em condições de duplicar o número, sendo que há uma ressalva: todo o material doado e adquirido é sempre certificado em termos de qualidade antes de ser distribuído.

Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, anunciou que durante o fim de semana vão chegar 144 ventiladores aos hospitais portugueses e espera-se que cheguem mais “durante a semana”. Os ventiladores vão ser distribuídos consoante “critério pré-estabelecidos” que têm a ver com as necessidades de cada unidade, “a urgência dos ventiladores, ou seja, o grau de sobrecarga que já existe nos serviços de medicina intensiva e de acordo com critérios de segurança”. O responsável frisou ainda que “houve um crescer significativo da capacidade instalada da medicina intensiva em Portugal”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Quanto mais lenta for a progressão mais para a frente vai ser o pico”

A ideia, contudo, continua a ser evitar ao máximo que haja pressão no SNS. Questionada sobre quando se espera o pico da epidemia, Graça Freitas repetiu que o pico pode ser estendido no tempo, uma vez que a subida não está a ser abrupta. “Estamos a subir a curva, ainda estamos em ascendência, mas não é exponencial nem abrupta. Temos tido uma ascendência aplanada, mas não sabemos quando vai ser o pico. Quanto mais lenta for a nossa progressão mais para a frente vai o pico. Estamos a fazer tudo para subir lentamente, vamos depois estar em planalto, mas só saberemos que estivemos no pico quando começarmos a descer, e mesmo assim não dá para ver logo nos primeiros dias de descida. O que nos interessa neste momento é sobretudo saber o número de doentes que temos por semana para termos a certeza de que os conseguimos tratar adequadamente. O objetivo é tratar bem os doentes”, disse a diretora-geral de Saúde.

Sobre os 1.124 profissionais de saúde infetados, António Sales afirmou que desses, “206 são médicos, 282 enfermeiros e 634 outros profissionais”, como assistentes técnicos e operacionais e de diagnóstico e terapêutica. Relativamente ao número de profissionais internados em cuidados intensivos, o secretário de Estado avançou com os números de ontem: 7 médicos e 1 enfermeiro, sendo que os dados poderão ter sofrido alterações, como ressalvou.

Questionada sobre os critérios para realizar testes, Graça Freitas disse que não houve alterações: se o doente é suspeito deve ser testado, assim como as pessoas que o contactaram, sobretudo se se tratar de lares e sítios de risco. Já sobre casos reportados de hospitais que dão alta a pacientes sem confirmar que têm dois testes negativos, Graça Freitas defendeu que o critério se mantém. “Continuamos obviamente a considerar que o padrão melhor é ter dois testes negativos, mas estou certa de que os colegas da região norte (exemplo dado pelo jornalista) que deram estes doentes como recuperados e os mandaram para o domicílio, o fizeram com base em critérios clínicos, e acredito que tenham recomendado a permanência em isolamento”.

Sobre os utentes sem médicos de família que estão com mais dificuldade a obter baixas, Graça Freitas explicou que as indicações são para que a cobertura seja feita por médicos de família atribuídos especificamente para esta situação, sendo certo que, como acrescentou António Sales, “não haverá ninguém sem médico de família”. “Mesmo as franjas da população mais vulneráveis como migrantes ou refugiados vão ter direito a médico de família”, disse.

Quanto aos números da curva portuguesa: há 9034 casos confirmados, o que representa um aumento de 9,5% nos casos registados de ontem para hoje, há 1042 doentes em internamento, 240 em intensivos, 209 óbitos, e 68 casos de recuperação. “A taxa de letalidade global é de 2,3% e a taxa de letalidade acima dos 70 anos é de 9,2%. Em domicilio estão 85,4% dos doentes (um total de 7715 doentes)”, disse o secretário de Estado.