Desde quarentena obrigatória para quem chegava ao país até ao uso de uma aplicação que rastreia contactos entre pessoas, Israel tem feito de tudo para conter a subida do número de mortes e infetados no país. E tem resultado: até agora registou 7,030 casos e 36 mortes, segundo o World Meter.

Israel anunciou o primeiro infetado com Covid-19 no dia 21 de fevereiro. O caso dizia respeito a um passageiro a bordo do navio cruzeiro Diamond Princess, que estava no Japão. E as medidas não tardaram a chegar.

No dia seguinte, o governo israelita anunciou as primeiras duas: proibiu a entrada no país de cidadãos da Coreia do Sul e do Japão e impôs um período de quarentena de 14 dias a todos os israelitas que tivessem estado num destes países nas duas semanas anteriores. Cinco dias depois, a lista foi aumentada: China, Tailândia, Singapura, Espanha e Itália também passaram a estar englobados nas restrições.

O país só registou o vigésimo caso dezassete dias depois da primeira confirmação, ou seja, no dia 9 de março – uma evolução muito mais lenta do que a registada, por exemplo, em Portugal, que anunciou o primeiro caso no dia 2 de março e apenas cinco dias depois tinha já atingido os 21 casos confirmados. Por esta altura, Israel tinha já adotado uma série de medidas para evitar a propagação do vírus: fechou fronteiras, implementou isolamento obrigatório para todos os que chegassem ao país, proibiu concentrações com mais de 100 pessoas e alertou a população para os cuidados a ter.

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“Curiosamente, Espanha e Itália registaram o seu primeiro positivo no mesmo dia, a 31 de janeiro, o nosso foi no dia 21 de fevereiro. Isso deu-nos três semanas de margem essenciais para nos preparar, e levámos isso muito a sério. Quando o primeiro caso chegou, já havia um plano, já sabíamos quais seriam os próximos passos a seguir no dia seguinte“, explicou a investigadora Michal Linial, professora do Departamento de Química Biológica da Universidade Hebraica de Jerusalém e uma das primeiras do país a publicas um artigo científico sobre o coronavírus, em entrevista ao El Confidencial.

A investigadora explica ainda que a razão para isto foi simples: “O sistema de saúde israelita não é tão poderoso quanto o da Espanha ou da Alemanha, temos muito menos camas e médicos por cada 100.000 habitantes, e em parte por isso, pelo medo do que poderia acontecer, pelo medo de perder vidas, algo profundamente enraizado na sociedade, foram tomadas medidas desde o início”.

Conforme o número de casos foi aumentando, também as medidas iam ficando mais rígidas. No dia 12 de março, quando já se registavam 105 casos confirmados mas ainda nenhuma morte, segundo o World Meter, Benjamin Netanyahu anunciou o encerramento de escolas e universidades.

“As restrições foram graduais, mas muito rápidas. Dois dias depois de as escolas, bares, restaurantes e museus fecharem. Após dois dias, todo a gente passou a trabalhar a partir de casa e o transporte público foi reduzido em 75%. O que durou até à declaração de estado de emergência no dia 19 e ao confinamento obrigatório de toda a população“, explicou Linial.

Aplicação rastreia contactos com infetados

No mesmo dia em que foi aprovado o estado de emergência (um dia antes da declaração), o governo anunciou outro dos pilares da sua estratégia: uma aplicação, que tem recebido duras críticas por representar uma invasão da privacidade, criada pelo serviço de inteligência israelita recorrendo a medidas antiterroristas, explica o Times of Israel.

A aplicação é um meio tecnológico destinado a dar a todos e cada um de nós a capacidade de saber com precisão e imediatamente se estivemos em contacto com uma pessoa infectada pelo coronavírus”, afirmou o comunicado, acrescentando: “Com isso, podemos parar a propagação da doença e proteger os mais próximos de nós.”

O seu funcionamento é simples e muito eficaz: depois de ser instalado no telemóvel, a aplicação tem acesso à localização da pessoa através do GPS e do Wi-Fi, mas, ao contrário de aplicações usadas noutros países, rastreia os contactos e não a localização. Isto significa que quando uma pessoa infetada com coronavírus transfere os seus dados para o governo, a aplicação descodifica com que pessoas é que o infetado se cruzou.

O Ministério da Defesa, por seu turno, apoiou a investigação realizada por uma outra start-up, Vocalis Health, que tenta desenvolver uma aplicação que permita aos profissionais de saúde detetar, apenas pelo som da voz, se é provável que uma pessoa tenha sido infetada, explica o Times of Israel.

“Trabalhamos dia e noite para desenvolver a aplicação”, disse à AFP Tal Wendrow, cofundador da start-up.