O presidente da Câmara de Comércio de Sotavento, em Cabo Verde, considerou esta sexta-feira “muito positivas” as meditas anunciadas pelo governo para mitigar os efeitos da pandemia provocada pelo novo coronavírus, acreditando que a maioria das empresas sobreviverá à crise.

Nós consideramos essas medidas muito positivas. Aliás, a Câmara de Comércio teve um grande papel na definição destas medidas, mas sobretudo ajudando a sua regulamentação. Nós participamos nisso, estamos de acordo e pensamos que é um passo em frente na procura de soluções para nós ultrapassarmos da melhor forma os problemas causados pelo coronavírus nas empresas”, disse Jorge Spencer Lima, em declarações à agência Lusa.

Na quinta-feira, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, apresentou as linhas de crédito “montadas” em conjunto com a banca para abranger o empresariado do país, que ascendem a 3,3 mil milhões de escudos (30 milhões de euros). As empresas vão poder aceder a financiamentos bancários de até 40 milhões de escudos (363 mil euros) para reforço da tesouraria e fundo de maneio, com garantias do Estado até 100% em alguns casos e taxas de juros até 03%.

Para o presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Sotavento (CCISS), as empresas ligadas ao turismo são as mais afetadas pelos efeitos do novo coronavírus, mas salientou que o problema é transversal a todas as empresas cabo-verdianas. Segundo Jorge Spencer Lima, o valor de financiamento bancário até 40 milhões de escudos é “razoável”, sublinhando que esta é uma primeira medida, para testar o sistema, que vai depender da evolução da doença em Cabo Verde.

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As medidas tomadas satisfazem as empresas, satisfazem os empresários, a questão que se põe neste momento é a sua eficácia. Tomam-se medidas mas é preciso implementá-las, não demorar tempo demais a implementar o que já se decidiu”, advogou o presidente da CCISS.

No caso dos pedidos de financiamento, Olavo Correia disse que os bancos deverão decidir num prazo de uma a duas semanas e o desembolso pode ser integral ou por tranches mensais e com adiantamentos de até 50% do financiamento aprovado. “Isso já é um passo gigante no sentido da implementação dessas medidas”, concordou Jorge Spencer Lima.

O Banco de Cabo Verde [BCV] já anunciou fundos a custos muito reduzidos à disposição dos bancos, esperemos que os bancos compreendam que agora não é o momento de procura do lucro e não só. É claro que nós não estamos a pedir aos bancos que trabalhem de graça ou para perder dinheiro. Isso não. Os bancos têm de ganhar dinheiro, mas não precisam é ganhar demasiado”, referiu.

Jorge Spencer Lima considerou também que o máximo de até 3% é uma “boa taxa” de juro, tendo em conta que o BCV cedeu liquidez de 0,75% e os bancos podem passar essa liquidez aos privados, sobretudo numa forma muito importante que é limitação de tesouraria, implicando que quem não está a produzir não tenha dinheiro.

Sobre as garantias do Estado, o presidente da CCISS disse que é para dar “conforto” aos bancos, que não vão perder dinheiro nem ter problemas de rentabilidade.

É nestas situações e é para isso que serve o governo, para defender a população, a sociedade e os cabo-verdianos. E o Governo está neste momento a cumprir esse papel e bem”, elogiou o líder empresarial de Sotavento, que engloba as ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava.

O ministro das Finanças disse que as linhas de crédito “não estarão disponíveis para as empresas que estejam em incumprimento com as obrigações fiscais e tributárias”, mas Jorge Spencer Lima discordou, dizendo que não se deve “punir” as empresas incumpridoras.

“Não tem sentido. No nosso ponto de vista, as regalias são para o conjunto das empresas nacionais, cumpridoras e não cumpridoras”, afirmou, considerando que no estado de emergência que o país está a viver não se deve olhar para a cara das pessoas ou das empresas, porque isso vai implicar a subjetividade.

Sobre o futuro empresarial em Cabo Verde, Jorge Spencer Lima lembrou que as empresas são corpos vivos, que nascem, crescem e morrem, e acredita que “algumas vão morrer pelo caminho”, independentemente do novo coronavírus e mesmo com injeção de capital.

Mas isso faz parte do processo. Mas acredito que o grosso das empresas vai sobreviver e isso significa que vamos ter uma base sólida para a retoma do crescimento da economia robusto de 05%”, concluiu.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 51 mil.

O número de mortes em África subiu para mais de 240 num universo de mais de 6.400 casos confirmados em 50 países, de acordo com as estatísticas sobre a doença no continente.