O Presidente timorense, Francisco Guterres Lu-Olo, exonerou esta sexta-feira a vice-ministra da Saúde, Élia dos Reis Amaral, com base numa proposta do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.

O decreto de exoneração, a que a Lusa teve acesso, foi assinado esta sexta-feira pelo chefe de Estado e afasta do Executivo Élia dos Reis Amaral, que estava a exercer interinamente as funções de ministra da Saúde. A exoneração surge na sequência de crescente tensão dentro do governo, confirmada por várias fontes ouvidas pela Lusa, relativamente à ação de Élia dos Reis Amaral desde o início da crise.

O papel da ex-vice-ministra — que tem sido criticado dentro e fora do governo – foi relativamente lateralizado desde a criação do Gabinete de Crise, liderado pelo primeiro-ministro. A ex-vice-ministra envolveu-se em vários choques com os jornalistas durante a cobertura da crise da Covid-19.

A tensão evidencia as divisões políticas no Executivo, que não conta atualmente com uma maioria parlamentar, com o governo a deixar de contar com o apoio de dois dos seus parceiros, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO). Esses dois partidos estão agora integrados numa nova aliança de maioria parlamentar, que conta com 34 dos 65 lugares, apesar de alguns dos seus membros, tal como acontecia com a vice-ministra da Saúde (CNRT), estarem ainda no Executivo.

A “gota de água” ocorreu na quinta-feira depois de alguma confusão na comunicação do governo timorense sobre os dados da Covid-19 em Timor-Leste, com dados diferentes transmitidos em duas conferências de imprensa seguidas e no mesmo local. Os balanços diferentes de casos suspeitos e de testes realizados pelo Laboratório Nacional foram apresentados por um dos porta-vozes do Gabinete de Crise, Rui Araújo e, logo a seguir, por Élia dos Reis Amaral.

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A governante não explicou, aos jornalistas, se o Ministério da Saúde estava a atuar independentemente do Centro Integrado de Gestão da Crise, nem justificou o balanço diferente sobre o diferente balanço, reiterando apenas que o Ministério da Saúde tem “a tutela sobre o Laboratório Nacional” e que estava apenas a transmitir os dados técnicos.

Como primeira medida, o primeiro-ministro timorense nomeou esta sexta-feira oficialmente os porta-vozes do Executivo do Gabinete de Crise criado para a Covid-19, que excluía a ministra interina da Saúde, depois da confusão de quinta-feira na comunicação de dados oficiais.

Num despacho que entra em vigor sábado, o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, explica-se que serão esses porta-vozes os únicos a canalizar informação oficial à comunicação social relativa à covid-19 em Timor-Leste, na Sala de Situação criada pelo Governo e instalada no Centro de Convenções de Díli (CCD).

Entre os porta-vozes nomeados estão o capitão de Mar e Guerra, Donaciano da Costa Gomes, que tem as funções de coordenador do Estado-Maior-Conjunto, e o ministro da Saúde indigitado, Sérgio Lobo, que nunca foi nomeado pelo Presidente da República e que é coordenador da Força Tarefa para a Prevenção e Mitigação do Surto de Covid-19.

Os restantes porta-vozes esta sexta-feira nomeados são o ex-primeiro-ministro Rui Maria de Araújo, coordenador dos Oficiais de Ligação, e a diretora-geral das Prestações em Saúde, Odete Viegas.

Timor-Leste tem um caso confirmado da Covid-19 e está em estado de emergência desde sábado.