A China, o maior mercado automóvel do mundo, é também um dos países com problemas ambientais mais severos, o que levou o Governo de Pequim a impor um sistema de quotas, obrigando os fabricantes de automóveis que comercializam veículos localmente a dedicar especial atenção a propostas de mobilidade mais sustentáveis. Uma medida com os olhos postos em 2025, altura em que a venda de veículos eléctricos (a bateria ou a célula de combustível) e automóveis híbridos plug-in (PHEV) deveria representar um quarto do total de vendas de novas viaturas.

O objectivo em causa representaria um esforço considerável para os construtores de automóveis, na medida em que implicaria passar dos 5% registados em 2019 para 25% num curto espaço de tempo, com a agravante de que a electrificação aporta um gasto superior em tecnologia, face às tradicionais soluções animadas por motores de combustão. E a pandemia, com origem em Wuhan, na China, veio tornar ainda mais inviável o cumprimento das exigências impostas aos fabricantes. Segundo a Reuters, o Governo chinês não está insensível às dificuldades levantadas pela Covid-19, encontrando-se a estudar um plano que permita assegurar a recuperação dos construtores de automóveis que, numa primeira fase, foram obrigados a fechar fábricas e, numa segunda fase, embora tenham retomado a produção e tenham grande parte dos stands de novo abertos, estão a deparar-se com uma drástica descida da procura. Os clientes não aparecem e, assim, torna-se complicado vender (o que quer que seja).

Coronavírus. Vendas de carros na China caem 92%

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Perante este quadro, fontes ouvidas pela citada agência admitem que não é razoável obrigar os construtores de automóveis a vender veículos parcial ou totalmente electrificados quando a pandemia arrasou a procura. Recorde-se que, tal como o Observador deu conta, só em Fevereiro, as vendas caíram 92% nos primeiros 15 dias do mês, devido ao receio dos clientes serem contagiados pelo coronavírus. O mês acabou por fechar com uma queda de 79% nas vendas, esperando-se que a retracção se fique pelos 10% no acumulado dos primeiros seis meses do ano. Mas estas previsões não tranquilizam as autoridades chinesas.

Segundo a Reuters, estará a ser gizado um plano de “socorro” para aliviar a pressão sobre os construtores de automóveis, com estes a fazerem parte das conversações onde também se encontram representantes chineses dos ministérios do Ambiente e da Indústria. Para já, uma hipótese em cima da mesa passa por adiar em seis meses o cumprimento do limite de emissões, o que daria aos fabricantes a possibilidade de se concentrarem na venda de veículos com motor de combustão, operação essa que se traduz numa maior liquidez. O “alívio” temporário das quotas referentes aos veículos eléctricos ou electrificados é visto como uma solução para permitir que os fabricantes recuperem, pouco a pouco, da crise.

Por outro lado, a China fez marcha-atrás em matéria de incentivos. Depois de o Governo ter retirado grande parte dos apoios à aquisição de modelos mais amigos do ambiente, por defender que a tecnologia já estava “madura” a ponto de ser competitiva, agora volta a acenar com benefícios. Na terça-feira, foi anunciado que a compra de BEV ou PHEV voltará a ser alvo de apoios governamentais e que, inclusivamente, os compradores desta classe de veículos ficarão isentos de imposto de aquisição por um período de dois anos.