“A situação da banca pode merecer a confiança dos portugueses relativamente ao seu empenho nas medidas a cumprir, as tomadas pelo Governo ou as que tomem por sua iniciativa”. A frase é do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mas as palavras não são bem suas. Trata-se de uma das mensagens que os presidentes dos cinco maiores bancos portugueses – Caixa Geral de Depósitos, BCP, Santander, BPI e Novo Banco – lhe transmitiram numa reunião realizada por teleconferência esta segunda-feira.

“Nós, além de termos pago aquilo que nos emprestaram e os juros, sentimos que nos devemos empenhar neste momento – foi isso que me disseram”, relatou Marcelo, numa referência às ajudas que os contribuintes portugueses emprestaram à banca desde 2007 (mais de 24 mil milhões de euros, dos quais o Estado recebeu cerca de 5,3 mil milhões).

O presidente afirmou ainda que a banca mostra “grande mobilização no sentido de ajudar a economia” e prepara-se para comunicar aos portugueses a sua posição sobre a resposta à crise provocada pela pandemia de covid-19. Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que a banca está a tomar “iniciativas próprias, completando as medidas aprovadas pelo Governo”, e tem “sugestões concretas” a apresentar.

“Portanto, saio desta reunião com um estado de espírito motivado por ouvir aquilo que cada um deles disse, em pormenor, que estava a fazer, que tenciona fazer, com o mesmo objetivo. E, mais do que isso, já no final da reunião me foi dito que tencionariam fazer chegar aos portugueses, por sua iniciativa, o ponto de vista que têm sobre a situação nacional e o empenhamento com que se encontram em relação à situação nacional”, acrescentou.

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Questionado se ouviu nesta reunião conjunta a garantia de que os bancos não vão lucrar com a situação do país, como têm exigido vários dirigentes políticos, o chefe de Estado não quis responder diretamente à pergunta: “Eu ouvi naturalmente as várias posições, e aquilo que os bancos tiverem a dizer de posição conjunta eles divulgarão, por comunicado, se entenderem adequado”.

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que a banca mostra “um estado de espírito de grande mobilização no sentido de ajudar a economia portuguesa a enfrentar um período que sabemos que será difícil”.

O Presidente da República informou que irá dar continuidade a esta reunião recebendo, na terça-feira, “o presidente das Associação Portuguesa de Bancos, e depois o governador do Banco de Portugal, para ter a visão da entidade e supervisiona o sistema bancário português”.

Questionado se hoje foram propostas pelos bancos novas medidas, o chefe de Estado respondeu que surgiram “algumas ideias” e “sugestões concretas”, umas que “dependem da decisão das instituições financeiras” e outras que “dependem, no domínio fiscal, por exemplo, ou no domínio da recapitalização de empresas, de iniciativa do Governo, sozinho ou em conjunto com outros parceiros económicos e sociais”.

“Sei que o Governo já conhece. De todo o modo, vou organizá-las, estruturá-las. São várias ideias, que têm a ver umas com a atividade bancária, outras com propostas que já fizeram, estarão a fazer ou que farão ao Governo, e que se completam”, prosseguiu.

Interrogado sobre a possibilidade de haver moratórias para o crédito ao consumo, o crédito aos particulares, Marcelo Rebelo de Sousa disse que tem ouvido essa ideia “na opinião pública”, mas que isso “passaria pelo Governo” e que por esse motivo não iria agora comentar esta matéria.

Quanto às medidas aprovadas pelo Governo, foi-lhe reportado que a banca “já começou os processos tendentes a colocar no terreno o financiamento previsto nessas medidas” e que este “já chegou ou está a chegar ou vai chegar nos próximos dias e próximas semanas progressivamente às empresas portuguesas”.

De acordo com a Presidência da República, participaram neste encontro Paulo Macedo e Rui Vilar, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Nuno Amado e Miguel Maya, do Millennium BCP, Pedro Castro e Almeida e José Carlos Sitima, do Santander Totta, Pablo Forero e Fernando Ulrich, BPI, e António Ramalho, do Novo Banco.