A História que Manzoni terá encontrado num manuscrito do século XVII, e que usou para dar “uma representação mais geral do estado da Humanidade num certo tempo” tornou-se, com o aprimoramento das várias edições, a primeira resposta ficcional ao apelo da unidade italiana. A História, que apareceu primeiro como Fermo e Lucia, foi reescrita em 1827 já com o nome de Os Noivos (e Fermo passou a ser Renzo, entre outras mudanças) e sofreu nova revisão em 1840, revisão essa sobretudo linguística, para purgar o livro das formas dialetais, que o tornou, verdadeiramente, o primeiro romance italiano.
Ora, o marco cronológico tornou o livro um objeto de estudo furioso. É estudado nas escolas italianas, usado como abonação para aprender gramática – a expressão “sventurata rispose” ou “a desventurada respondeu”, a propósito da monja de Monza, é hoje uma daquelas paródias que se fazem a partir do património escolar comum a todos – e é também matéria de análise em todas as escolas hermenêuticas. Sob a égide de Benedetto Croce, já foi interpretado como um romance proto-comunista, uma história da luta dos pobres contra os ricos que vai ganhando planos mais amplos com a entrada em cenas das revoltas de Milão.
É constantemente citado por papas, para quem o problema do mal, numa interpretação católica ortodoxa, é especialmente importante. Não há escritor italiano que fuja a Manzoni – Natalia Ginzburg, por exemplo, tem um excelente ensaio romanesco sobre a família Manzoni – nem pensador que o evite. A academia publica livros inteiros sobre os erros escritos a respeito de Manzoni, de que o melhor exemplo é Genio e Folia de Paolo Bellezza, os críticos nunca podem esquecê-lo, de Eco a Giussani e, mesmo entre as guerras estilísticas, Os Noivos conseguem passar inteiros: a edição de 27 ainda passa por romântica (mais ainda Fermo e Lucia, mas este esteve esquecido até à republicação em 1915) e a de 40 é já um exemplo de realismo literário.
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