A polícia guineense está nas ruas a obrigar as pessoas a irem para casa e quem desobedecer pode levar açoites ou ser preso, mas as autoridades afirmaram que não foi dada qualquer ordem para o uso de violência.

Contactado pela Lusa, Mário Fambé, secretário de Estado da Ordem Pública do governo de Nuno Nabian, primeiro-ministro indicado pelo autoproclamado Presidente guineense Umaro Sissoco Embaló, declarou que a medida visa “fazer cumprir o estado de emergência em vigor” no país.

Para conter a propagação do novo coronavírus, que já infetou 18 pessoas, as autoridades guineenses determinaram várias medidas, ao abrigo do estado de emergência, nomeadamente o confinamento social e a limitação de circulação de pessoas e viaturas entre as 7h e as 11h locais (menos uma hora que em Lisboa).

O secretário de Estado da Ordem Pública sublinhou que não foi dada qualquer ordem para que a polícia bata nas pessoas, mas também exortou a que fiquem em casa, depois da hora indicada no decreto governamental que regulamenta o estado de emergência nacional.

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Várias pessoas relataram à Lusa terem sido agredidas pela polícia, durante o fim de semana, que as obrigava até a entrarem para as suas casas, quando se encontravam na varanda.

Mário Fambé disse ser contraproducente obrigar a que as pessoas entrem para as suas casas, tendo em conta, observou, a temperatura que se faz sentir nesta altura do ano.

A Guiné-Bissau vive mais um período de crise política, depois de o general Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, enquanto decorre no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.

Umaro Sissoco Embaló tomou posse numa cerimónia dirigida pelo vice-presidente do parlamento do país Nuno Nabian, que acabou por deixar aquelas funções, para assumir a liderança do governo nomeado pelo autoproclamado Presidente.

O governo demitido por Umaro Sissoco Embaló, o do primeiro-ministro Aristides Gomes, mantém o apoio da maioria no parlamento da Guiné-Bissau.

O governo liderado por Nuno Nabian ocupou os ministérios com o apoio de militares, mas Sissoco Embaló recusa que esteja em curso um golpe de Estado no país e diz que aguarda a decisão do Supremo sobre o contencioso eleitoral.

Depois de os ministérios terem sido ocupados, as forças de segurança estiveram em casa dos ministros de Aristides Gomes para recuperar as viaturas de Estado.

No âmbito do combate ao novo coronavírus, as autoridades guineenses determinaram declarar o estado de emergência, bem como encerrar as fronteiras aéreas, terrestres e marítimas na Guiné-Bissau. Medidas que foram acompanhadas de uma série de restrições à semelhança do que está a acontecer em vários países do mundo.

Na sequência da tomada de posse de Umaro Sissoco Emabaló e do seu governo, os principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau apelaram a uma resolução da crise com base na lei e na Constituição do país, sublinhando a importância de ser conhecida uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o recurso de contencioso eleitoral.

O Supremo Tribunal de Justiça remeteu uma posição sobre o contencioso eleitoral para quando forem ultrapassadas as circunstâncias que determinaram o estado de emergência no país.