As indicações da Direção-geral da Saúde são claras: o material utilizado num doente ou caso suspeito da Covid-19 deve ser eliminado (deitado fora), mas desde sexta-feira que o INEM pede aos técnicos de emergência que reciclem os óculos — que deviam ser descartáveis — e que lavem as fardas em casa a 90º.

Os óculos devem ser mergulhados em lixívia e os impermeáveis que as equipas recebiam foram substituídos por outros em rede, avança o Jornal de Notícias na edição desta segunda-feira. Segundo o diário, os profissionais do INEM ameaçam agora parar.

“Ou nos arranjam material em condições ou paramos”, cita o JN que acrescenta que o INEM “defende que está a fornecer o equipamento necessário e a tentar procurar adaptar a sua logística à nova realidade”.

Rui Lázaro, do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar explica ao jornal que os óculos integravam o kit que as equipas recebiam, mas que deixaram de ser entregues, sendo agora as equipas forçadas a fazer a sua desinfeção após cada utilização — com lixívia ou álcool a 70º no mínimo.

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O sindicalista avança que os profissionais já propuseram que as fardas fossem deixadas na lavandaria do hospital Magalhães Lemos, embora ainda sem resposta, e que os técnicos “admitem parar” e uma queixa à Provedora da Justiça.

Ao Observador, o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), Pedro Moreira diz que a situação “deve ser imediatamente corrigida e reposto o material”.

Pedro Moreira: “Já não basta o medo, INEM expõe-nos ao risco”

“Temos os técnicos num quadro de ansiedade e medo relacionada com o quadro de pandemia que afeta todos os profissionais e é conhecido o elevado número de profissionais infetados. Com esta redução de material de proteção só estamos a expor os técnicos a um risco de contágio”, nota o sindicalista que lembra que é necessário “garantir um certo nível de proteção”.

“O INEM corta e anula aquilo que são as orientações muito claras da DGS. Não temos toucas de proteção, cobre botas, temos batas porosas e não impermeáveis como muito claramente a DGS indica que deve ser e a farda descartável e que devia ser deixada para higienização no local, os técnicos levam para casa porque o INEM não fez o ajuste”, alertou Pedro Moreira.

Segundo o responsável os técnicos de emergência pré-hospitalar sem a devida proteção “podem por em causa, inclusivamente, a vida de pessoas”, uma vez que podem contribuir para a propagação do vírus.

Depois de ouvir as equipas, através de um questionário online, a Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar (SPEPH) vai apresentar uma queixa ao Ministério Público. O diretor da SPEPH afirmou ao JN que “muitas das normas e procedimentos aplicados aos elementos que constituem a primeira linha, são manifestamente contraproducentes” e que a queixa será apresentada por ter sido detetada “falta de equipamentos e violação de protocolos”.