Em entrevista à Antena 1, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a apontar o mês de Abril como determinante no combate à epidemia da Covid-19, tal como já o tinha feito no discurso de renovação do Estado de Emergência, a 31 de Março. E também aqui, não podia ter sido mais claro: “Neste momento se me perguntasse: acha que pode haver uma descompressão durante o mês de abril? Eu diria não”.

Sobre os passos seguintes, que poderiam aliviar a “compressão”, a resposta ainda é vaga e, mais uma vez, depende do mês de Abril. “Isso é uma coisa que tem de ser apreciada quando terminar este período. Veremos”, declarou o Presidente sobre o estado que vigora até 17 de abril, e que poderá ser renovado por mais 15 dias.

O presidente da República admitiu, ainda, que continua a falar todos os dias, (às vezes mais do que uma vez por dia) com o primeiro-ministro, António Costa, com quem se tem dado “muito bem” nesta crise. Como aconteceu esta segunda-feira, após a reunião de Marcelo Rebelo de Sousa com os banqueiros. Reunião essa que o obrigou a ficar acordado até tarde a trabalhar, de forma a promulgar diplomas urgentes, como o alargamento do lay-off aos sócios gerentes, e que “rapidamente” têm de ser publicados. O Presidente aproveitou esta referência para uma pequena farpa a Rui Rio, destacando a curiosidade de estar “nesse preciso momento a ouvir o líder da oposição a propor uma medida que estava em cima da minha mesa”.

E ainda à volta do mês de Abril, Marcelo contou que vai aproveitar o período da Páscoa, que terá de se manter em Belém, “isolado da família”, para escrever o discurso para a cerimónia de comemoração do 25 de abril, que dadas as circunstâncias, será “contida“. Com o restante tempo livre, vai aproveitar para “caminhar” e falar com todos os presidentes de câmara, para fazer um ponto de situação do que se passa nos municípios.

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Sobre o ritmo de trabalho, diz, tem aumentado desde que se mudou para Belém, onde agora passa os dias e noites. O presidente, “trabalha mais horas” mas tem mais condições técnicas para falar por videoconferência, por exemplo, o que não tinha em casa. “Como se viu na comunicação que fiz ao país durante o isolamento”. Mas as condições técnicas não significam que a estadia na residência oficial do Palácio de Belém seja mais “prática”. Por ter dimensões reduzidas, não lhe permite ter “livros e roupa” suficientes, obrigando-o a viajar até à sua casa, em Cascais, para recolher os artigos de que necessita. E agora, faz sempre esse percurso a guiar o seu próprio carro. E quando pode, passa pela casa onde vivem os netos para os ver e dizer-lhes adeus – com um muro a separá-los. “Tem sido difícil gerir esse isolamento. Já o tinha sentido no mês de Março, quando estive isolado entre o dia 8 e o 17 e tive de fazer tudo sozinho. Foi uma experiência radical”, garantiu à Antena 1.

Não perdeu foi o hábito de ir às compras. O que mudou é que agora vai de máscara. À Antena 1, o presidente optou por não pôr em causa a decisão das autoridades de saúde, apesar de já ter falado com a ministra Marta Temido sobre essa questão. Segundo Marcelo, “está em curso uma reflexão. Não quero especular”. Ainda em relação ao tema da saúde, o Presidente da República confirmou que não está imune à Covid-19 depois de ter feito um teste de base serológica, de forma a avaliar a sua imunidade. “O que não deixa de ser uma ironia, tendo em conta que contactei com muitos portugueses antes de me isolar profilaticamente”, confessou Marcelo Rebelo de Sousa.

Se essa sua faceta de “beijoqueiro”, como admitiu, se vai ou não manter no período pós-Covid-19, Marcelo admitiu que vai continuar a ser “ele próprio”. “Não vou ficar distanciado sempre. Aliás, nem eu nem o primeiro-ministro. Somos ambos tímidos corrigidos”.