Devido à escassez de material e ao aumento contínuo do número de casos no Reino Unido, os médicos têm tentado arranjar alternativas para se protegerem. Uma médica de uma unidade de cuidados intensivos de um hospital do sistema de saúde público britânico (NHS) decidiu quebrar o silêncio que tem sido imposto aos profissionais de saúde do país e dar uma entrevista à BBC, sob anonimato, onde revela que para se proteger tem utilizado sacos de plástico e denuncia que as datas de expiração das máscaras têm sido alteradas.

A médica Roberts (nome fictício) garante que o centro de saúde no qual trabalha está à beira do colapso. A unidade de cuidados intensivos está cheia de pacientes com Covid-19, as operações consideradas não urgentes, incluindo em casos de cancro, foram adiadas e há falta de tudo – profissionais de saúde, camas, ventiladores e até antibióticos básicos. Isto tudo antes de o país ter atingido o seu pico, que está previsto para meados deste mês, escreve o mesmo jornal.

“Não posso necessariamente proporcionar aos doentes o melhor cuidado com recurso a um ventilador, não posso garantir o melhor atendimento da enfermagem, porque os melhores enfermeiros estão esticar-se para chegar a todo o lado. Estamos a ficar sem antibióticos e não posso garantir todos os tratamentos que sei que ajudariam”, lamenta a médica.

Normalmente, podemos dizer ao parente que está ao lado da cama: ‘Vamos fazer tudo o que pudermos’, mas não me sinto capaz de dizer isso porque, neste momento, não posso”, lamenta a médica, que confessa que a parte mais difícil é ter de dizer à família do doente que não o podem visitar.

Além disto, a escassez já se faz notar nos equipamentos de proteção utilizados pelos profissionais de saúde. Segundo a médica, os enfermeiros e médicos que cuidam dos pacientes durante 13 horas por dia estão a utilizar sacos de lixo, aventais de plástico e óculos de esqui emprestados. Isto tudo enquanto examinam doentes a uma distância de cerca de 20 cm do rosto destes.

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“Trata-se de ser prático. Os enfermeiros da UTI [unidade de cuidados intensivos] precisam deles agora. Eles correm o risco de contágio o tempo todo, mas receberam instruções para usar máscaras abertas nas laterais, o que não fornece a proteção adequada”, explica Roberts.

“Isto está errado. É por isso que temos de colocar sacos de lixo nas nossas cabeças”, acrescenta.

Fotografia enviada à BBC pela médica entrevistada

A médica explica ainda que o medo do que poderá vir a seguir e o facto de não se saber quanto tempo durará a pandemia levou a que vários departamentos do hospital tenham começado a acumular equipamentos de proteção individual.

Atualmente, estão a ser assistidos por ventiladores mecânicos e sob os cuidados de Roberts três colegas que testaram positivo para o novo coronavírus, conta a médica, explicando que todos prestavam cuidados sem estarem devidamente equipados, por falta de material.

O governo britânico já admitiu ter tido problemas de distribuição, mas afirma que a equipa de distribuição nacional, em conjunto com as forças armadas, está a “trabalhar de dia e noite” para garantir os equipamentos de proteção chegam a todo o lado. Já o NHS afirma que foram entregues mais de um milhão de máscaras no dia 1 de abril, não fazendo qualquer referência a proteções que cobrem a cabeça e a luvas que chegam cobrem também os braços, escreve a BBC.

A médica, no entanto, diz que o hospital onde trabalha ainda não recebeu qualquer material, mostrando-se preocupada com o que tem sido feito para ultrapassar o problema.

“As máscaras de proteção respiratória que estamos a usar neste momento, foram rotuladas com novas datas de expiração. Ontem encontrei uma com três adesivos. O primeiro dizia que expirava em 2009, segundo dizia 2013, e o terceiro adesivo dizia 2021”, denunciou.

Fotografia enviada à BBC pela médica entrevistada