A funcionarem a “meio gás”, pastelarias e confeitarias no Porto reforçam parcerias, equipas e criam aplicações de entrega ao domicílio para garantir que o folar, o pão-de-ló, as amêndoas e os ovos chegam, nesta Páscoa atípica, às famílias portuguesas.

“Esta Páscoa vai exigir uma adaptação significativa, diria quase diária e minuto a minuto. O desafio é muito grande“, admitiu à Lusa Sérgio Rodrigues, sócio-gerente há mais de 15 anos da Doce Alto.

Sérgio decidiu reabrir as seis lojas da Doce Alto, no Porto, no dia 1 de abril. Parecia “mentira” quando, devido à pandemia da Covid-19 e prorrogação do estado de emergência, se viu obrigado a reorganizar os espaços e limitar o número de clientes.

Com quebras na “ordem dos 50%” a tenderem “para mais” e os funcionários de risco em casa, Sérgio Rodrigues tem “lutado” para manter o negócio a funcionar.

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Desde que reabriu as lojas, e para “fazer face à hipotética maior procura” que existe na Páscoa pelas típicas doçarias, reforçou as parcerias que tinha com empresas de entregas, como a UberEats e a Glovo.

Contudo, teme que a restrição das deslocações ao concelho de residência prejudique o negócio, especialmente da “casa mãe”, situada na Rua de Costa Cabral.

“A casa mãe na Costa Cabral é praticamente num limite do concelho do Porto com a Maia e Gondomar. Vamos ter algumas dificuldades com a produção e fazer com que os clientes sejam servidos, mas estamos a lutar”, frisou.

Neste momento, Sérgio já tem “dezenas de encomendas” de pão-de-ló, folar e amêndoas e prevê, tanto como espera, “que sejam muitas mais”.

A monitorizar as equipas para “trabalhar com o mínimo de prejuízo possível”, Sérgio espera também, “mais do que noutro ano qualquer”, evitar sobras e não desperdiçar, “por todos os motivos que isso implica”.

A funcionar também “a meio gás” estão as cinco lojas da Padaria Ribeiro, confessou à Lusa Afonso Viera, um dos sócios-gerentes.

Com 45% dos trabalhadores em regime de ‘lay-off’, por estes dias tem sido no estabelecimento dos Pinhais da Foz que tem “concentrado as atenções”. É o que tem tido “mais movimento”, por se situar numa zona residencial, e o que centra o serviço de entregas.

Aliás, segundo Afonso Vieira é o serviço de entregas, que criaram propositadamente para fazer face à pandemia, que tem “compensado a falta de faturação ao balcão”.

A Páscoa, que era uma época “boa do ano para o negócio”, tornou-se atípica e este ano, é “impossível fazer previsões”.

No entanto, e ainda que com as famílias separadas, Afonso Vieira afirmou ter já confirmadas encomendas para domingo, especialmente, de doçarias típicas desta quadra festiva.

Estamos e vamos entregar de acordo com a nossa disponibilidade, porque as entregas são feitas de acordo com as rotas mais eficientes e favoráveis numa ótica de otimizar as nossas deslocações e viagens”, admitiu.

Foi também com o propósito de “otimizar” o negócio, que Rui Paiva, sócio-gerente da Confeitaria Tavi, na Foz, decidiu criar uma aplicação ‘online’ para fazer entregas ao domicílio.

O estado de emergência ainda não tinha sido decretado e o movimento na loja já tinha decrescido na “ordem dos 50%”. Rui Paiva pôs “mãos à obra” e, em três dias lançou a aplicação.

“Percebemos e antevemos o que vinha aí”, confessou o sócio-gerente, que começou por fazer entregas nos arredores da Foz, e neste momento, faz praticamente por toda a cidade do Porto.

“Nestes 15 dias já ultrapassamos as 500 entregas e para a Páscoa, que tem sido o nosso grande motor para escoar os produtos que tínhamos comprado, também já temos várias encomendas”, afirmou.

Ainda que com mais de metade dos 50 colaborares em regime de lay-off e três carrinhas na rua a fazer entregas ao domicílio, as quebras no negócio “foram acentuadas”.

“Estamos a faturar 30 a 40% do que faturávamos antes, mas é melhor do que nada”, admitiu.

“Melhor do que nada”. Talvez seja também essa a expressão que milhares de famílias portuguesas usem nesta Páscoa quando se sentarem, ainda que poucos, à mesa.