O setor da carne dos Açores “não deverá sofrer impactos significativos” com o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul que prevê a liberalização dos mercados, conclui um estudo encomendado pelo Governo Regional.

O acordo entre a UE e o Mercado Comum do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) foi alcançado em 28 de junho do ano passado e prevê a liberalização do mercado, mas com “algumas exceções”, como o caso da comercialização da carne de bovino.

“Uma importante exceção à liberalização para o âmbito deste acordo é a carne de bovino, porventura o segundo setor mais relevante para os Açores e que a nível nacional representa sensivelmente 20% da produção do país”, assinala o texto com as principais conclusões do estudo realizado pela Consulai, que foi apresentado recentemente pelo Governo dos Açores aos parceiros do setor e a que a Lusa teve acesso.

Apesar de o Mercosul ser uma “importante fornecedor de matérias-primas” para a UE, as importações portuguesas de carne representam apenas 0,9% do total das importações europeias de carne fresca e 3% de carne congelada.

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“Isto significa que os impactos para o setor nacional serão sempre mais reduzidos quando comparados com os impactos nos principais países importadores de carne proveniente do Mercosul”, destaca o estudo.

Outra das justificações avançadas para o impacto reduzido do acordo comercial na carne açoriana são as “pouco significativas” exportações nacionais para outros países europeus, como a Alemanha, a Holanda e a Itália (principais importadores de carne).

“Os rendimentos dos produtores nacionais não deverão apresentar oscilações com a entrada em vigor deste acordo comercial, sendo que, de igual modo, o setor da carne nos Açores também não deverá sofrer impactos significativos”, lê-se no texto, que refere que não existirão “cortes significativos” no volume de carne exportada devido ao acordo comercial.

O estudo encomendado pelo executivo avaliou dois cenários para o futuro do setor da carne açoriana, sendo um deles assente na “manutenção”, equivalente à continuação do atual modelo de produção e comercialização, concluindo-se neste caso que não existirá “grande oscilação” nos preços da carne com a entrada em vigor do acordo.

O outro cenário avaliado foi o da “diferenciação”, equivalente à implementação da estratégia da valorização da carne açoriana, que, segundo o estudo, levará a um “reforço da produção” da carne, vendida a preços superiores devido à procura de “carnes de qualidade superior”.

A União Europeia e o Mercosul negoceiam desde 1999 um amplo acordo de associação que inclui um acordo comercial, mas as negociações estiveram totalmente bloqueadas entre 2004 e 2010, tendo sido retomadas apenas em 2016.