É, provavelmente, a pergunta que todos os portugueses querem ver respondida e este domingo, durante a habitual conferência de imprensa na Direção-Geral de Saúde, sobre a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, os jornalistas fizeram-na: quando é que a vida vai voltar ao normal?

[Reveja aqui a conferência de imprensa:]

Marta Temido, a ministra da Saúde, respondeu, mas sem se comprometer com datas nem medidas concretas: “É num equilíbrio entre incerteza e esperança que temos de nos mover”, foi o que começou por dizer. Logo a seguir, cerceou a segunda e enfatizou a primeira — em tempo de dúvida global, só uma coisa parece certa: “Nada nos próximos tempos — se é que alguma vez — vai ser como antes, e temos de saber viver com isso e de nos adaptar”.

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Confrontada com as declarações recentes do antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que em entrevista sugeriu que talvez fosse “melhor pôr gente na rua com teste feito e máscara do que manter o país fechado”, a atual detentora da pasta respondeu: “Fosse assim tão simples quanto pôr toda a gente na rua com teste realizado e máscara”.

“Infelizmente, é bastante mais complexo. Sabemos, por um lado, que um teste negativo hoje não é certeza de um teste negativo amanhã. Sabemos, por outro lado, que o uso da máscara só tem alguma eficácia, e a evidência é indireta e frágil, quando usado com outras medidas, desde logo o isolamento social”, completou a seguir. Sobre o tema do alargamento das máscaras à população em geral, Marta Temido tornou a fazer referência a uma norma da DGS que em breve deverá ser anunciada: “Ultimámos já uma norma sobre a utilização de meios de proteção geral na vida comunitária, na vida social, mas sabemos que essa vida social neste momento está dentro de parênteses, continuamos a viver um período em que estamos em estado de emergência e tendencialmente recolhidos. Eu diria que até ao momento de descoberta da vacina a expetativa de normalidade vai ter sempre de ser temperada por medidas de restrição, de contenção e de prevenção que não podemos eliminar por completo.”

No caso da população idosa, admitiu a ministra, poderá fazer sentido até que essas medidas não sejam sequer aliviadas. “Temos tido uma grande preocupação relativamente aos mais vulneráveis”, disse a ministra da Saúde sobre as declarações de Ursula Van der Leyen, que este domingo alertou para a necessidade de manter em isolamento essa faixa etária até ao aparecimento de uma vacina.

“Vamos continuar a acompanhar as recomendações e as necessidades de proteção. É evidente que vivemos num contexto global e aquilo que é a situação de um país europeu influencia os outros, portanto estamos longe de ter vencido esta pandemia. Ainda nos espera muito trabalho, muita resistência, e se essa for a recomendação mais adequada, pois claro que a acompanharemos”, assegurou Marta Temido.

Falando num equilíbrio constante entre o controlo da crise sanitária e a preservação da economia, a ministra da Saúde fez questão de frisar que a situação tem de ser gerida com pinças: “Sabemos que países que optaram por visões muito radicais de deixar tudo aberto ou de fechar tudo não tiveram tão bons resultados como aqueles que gostariam e tiveram de fazer pequenas correções. O equilíbrio, a ponderação, a vigilância epidemiológica constante e a aplicação de medidas mitigadoras do risco de transmissão são a melhor forma de servirmos a população”.

Depois, recordando que um conjunto de peritos de várias áreas científicas tem acompanhado a evolução dos números portugueses, bem como os dos países vizinhos, e que isso serviu tanto para preparar o surto como virá também a servir para preparar o “regresso desejado à normalidade”, Marta Temido fez referência à reunião que, na próxima quarta-feira, dia 15, deverá juntar o referido grupo —  sob o olhar atento de Presidente da República e Presidente da Assembleia da República e representantes dos grupos parlamentares, do Conselho de Estado e do Conselho Económico-Social.

“Vamos ver o que os números nos dizem. Gostamos de decidir com base na ciência, com base na evidência, mas temos sido todos — não só os portugueses — encaminhados para a necessidade de tomar decisões nos últimos tempos que não repousam só na certeza absoluta, mas têm algum nível de risco. É o que vamos continuar a fazer.”

Linha Saúde 24 a funcionar com “normalidade”, EPI a chegar e ventiladores ainda na China

Durante o boletim diário da DGS, a ministra da Saúde fez ainda um balanço das ferramentas de contacto do Serviço Nacional de Saúde com a população, nomeadamente a linha Saúde 24 e a aplicação Trace COVID.

“Relembro que os pacientes que estão em domicílio estão a ser acompanhados telefonicamente e que, neste momento, para se ter uma noção, temos cerca de 70 mil profissionais inscritos no Trace COVID a fazer gestão clínica. Em vigilância clínica, por equipas de saúde familiar, ou seja médicos e enfermeiros de cuidados de saúde primários, estão mais de 36 mil utentes”, revelou Marta Temido.

A ministra garantiu ainda que o funcionamento do 808 24 24 24, que tantos problemas teve desde o início da pandemia, “retomou a normalidade”. Só durante este sábado, acrescentou, a Linha Saúde 24 recebeu mais de 12 mil chamadas e atendeu mais de 11 mil. O tempo médio de espera para se ser atendido foi de 28 segundos. “A linha de aconselhamento psicológico recebeu ontem 236 chamadas”, juntou ainda Marta Temido.

Num balanço do equipamento de testagem, a ministra anunciou a chegada de um novo voo, com mais 900 mil testes e 220 mil zaragatoas a bordo, a  Portugal. “Não recebemos ainda os kits de extração, necessários à realização dos testes. Estávamos à espera, mas a entrega foi adiada e esperamos que se concretize na semana que começa amanhã”, completou a ministra.

Também adiada, segundo Temido devido à burocracia chinesa, foi a entrega dos 508 ventiladores já adquiridos pelo Estado e que deveriam chegar a Portugal no final desta semana: “Na China, esta semana, os regulamentos sobre transportes mudaram obrigando a novas autorizações que estamos agora a diligenciar para obter e que demoraram alguns dias, o que atrasou o transporte sensivelmente 8 dias”.