Empresas tecnológicas (privadas) estão a ter acesso a grandes quantidades de dados confidenciais partilhados pelo serviço nacional de saúde britânico, revela uma investigação do The Guardian. A investigação, que se baseia em documentos obtidos pelo diário britânico, mostra que uma empresa do multimilionário norte-americano Peter Thiel (a Palantir) está a trabalhar com uma startup britânica que trabalha no tratamento de dados por inteligência artificial (a Faculty). Esta parceria está, em coordenação com o governo de Boris Johnson, a ter acesso a esses dados e a tratá-los com data mining, com o objetivo de ajudar as autoridades a gerir a pandemia.

Um dos documentos citados pelo The Guardian mostra que, há duas semanas, as empresas tiveram planos (que não se sabe se foram executados) de promover uma simulação informática para tentar prever o resultado de políticas “de imunidade de grupo localizada”. Mas, confrontada com os dados, a Faculty garantiu, através dos seus advogados, que essa simulação nunca foi efetivamente corrida.

A informação oficial é que estas duas empresas estão a trabalhar com o Serviço Nacional de Saúde, o NHS britânico – em concreto, com a divisão de inovação digital NHSX –, para criar uma “datastore“, uma base de dados, capaz de ajudar as autoridades de saúde a obter “informação em tempo real acerca dos serviços de saúde, mostrando onde é que a procura está a aumentar e onde é que equipamento crucial precisa de ser instalado”. Também segundo fonte oficial da NHSX, que garante que todos os dados são anonimizados, “as empresas envolvidas não controlam os dados nem estão autorizadas a partilhá-los em seu benefício”.

Já se sabia que o governo britânico iria trabalhar com estas empresas na construção desta plataforma, mas sempre com a garantia de que as empresas apenas iriam ter acesso a dados “de forma agregada” – já que o contrário seria uma violação das leis de proteção de dados e confidencialidade das informações de saúde de cada um. Mas os documentos vistos pelo The Guardian indicam que são partilhados com as empresas dados atribuíveis a pessoas concretas, desde informações sobre o resultado do teste à Covid-19 e informações sobre aquilo que os doentes transmitiram quando ligaram para os serviços de atendimento telefónico.

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