A Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa divulgou esta quinta-feira os resultados de um inquérito, junto de 528 estudantes, segundo o qual apenas 18% dos inquiridos consideram que todas as aulas decorrem conforme planeado.

Os estudantes alegam que o ensino a distância, adotado na sequência da pandemia de Covid-19, apresenta fragilidades que têm “indubitavelmente prejudicado” os alunos.

“No período de apenas uma semana, chegaram-nos mais de 500 denúncias de irregularidades”, afirma a associação, em comunicado.

No relatório que acompanha os resultados do inquérito, os alunos afirmam-se prejudicados “a nível académico e psicológico”.

De acordo com os dados recolhidos no inquérito, 10,2% dos inquiridos consideram que nenhuma das suas unidades curriculares tem funcionado adequadamente e 46,2% afirmaram não ter aulas por videoconferência de forma regular.

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No mesmo universo, 67,2% responderam que a carga de trabalho “aumentou substancialmente”, desde o início das aulas não presenciais.

“Entre aqueles que têm assistido às aulas lecionadas através de plataformas alternativas, como a videoconferência, 29% dizem que estas não têm decorrido de forma satisfatória”, lê-se no documento divulgado pelos estudantes, com o objetivo de promover um debate sobre este modelo de ensino e identificar fragilidades.

De acordo com os estudantes, a maioria das unidades curriculares com componente prática não foi devidamente adaptada: “27% viu a componente prática eliminada por completo“.

Os mesmos resultados mostram que 35% do universo inquirido estão a ser avaliado somente por elementos escritos e que apenas 3% tem realizado apresentações orais.

“É especialmente problemática a eliminação destas componentes, transformadas em componentes teóricas, bem como o estabelecimento de prazos demasiado curtos, concomitante com a instauração de uma lógica de autodidatismo, sem orientação adequada”, criticam os estudantes.

Para os alunos, o sistema de teletrabalho em vigor tem “profundas lacunas”.

É deveras alarmante verificar que um terço dos estudantes inquiridos ainda não dispõe, volvido um mês sobre o início do isolamento profilático, de quaisquer informações relativas à avaliação alternativa perspetivada”, lamentam.

A associação refere ainda que nem todos os estudantes têm computador, nem os docentes receberam a formação adequada para trabalhar com determinadas plataformas online, sendo “muitas vezes incapazes de conduzir eficientemente as aulas”.

Neste sentido, deixam um apelo para que seja feita “uma maior pressão” por parte dos diretores de departamento e de curso “sobre os docentes que não estão efetivamente a lecionar aulas por Zoom ou por qualquer outra plataforma”, para que comecem a fazê-lo “o quanto antes”.

Os estudantes dizem ainda que se sentem injustiçados por não verem na propina “a garantia de um ensino adequado e de qualidade”.

A associação anunciou também que subscreveu a campanha “Ninguém fica para trás”, que está a ser promovida por diversas entidades, entre as quais associações de estudantes. A campanha nasceu em Lisboa e pretende criar “uma vaga de fundo” que apoie os mais prejudicados pelas consequências socioeconómicas da pandemia da Covid-19, em áreas fundamentais como a habitação e o emprego.

A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 137 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 450 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 629 pessoas das 18.841 registadas como infetadas.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.