A divulgação do boletim da DGS por volta do meio-dia entrou na rotina dos portugueses há mais de um mês e, esta sexta-feira, os números surpreenderam: os novos casos positivos foram 181, um aumento de apenas 1%. Se o aumento diário na casa dos 3%-5% já era considerado um bom registo, um aumento de 1% parecia pouco provável nesta fase. A Direção-geral de Saúde garantiu que o “número é fiável” e que até confirmou os números com “praticamente todo o país”, mas avisa: “é um número fiável para o qual temos que olhar com cuidado”. No que diz respeito ao testes há também novidades: os hospitais vão receber cinco mil testes rápidos para aplicar em situações específicas.

“Não podemos olhar apenas para um dia, mas para uma série temporal. É consistente com o planalto e descida do planalto e as projeções que têm sido feitas pela academia. Temos que esperar mais uns dias, não podemos ser demasiado pessimistas quando aumenta nem demasiado otimistas quando há uma redução”, afirmou Graça Freitas já depois do secretário de Estado da Saúde, António Sales, ter frisado que ainda que o número de testes tenha aumentado o número de casos positivos não seguiu essa tendência.

Segundo António Sales, desde dia 1 de março Portugal realizou 224 mil testes, dos quais “10,5% tiveram resultado positivo”. Tratam-se dos testes mais demorados, os únicos que até agora tinha recebido a aprovação do INSA e do Infarmed para poderem ser realizados. Mas o secretário de Estado aproveitou o briefing diário para anunciar que “serão distribuídos cinco mil testes” rápidos aos hospitais. “Permitem resultados em cerca de 45 minutos ou uma hora, e serão usados preferencialmente em ambiente hospitalar. Em situações de urgência, pré-cirurgia ou tratamentos no âmbito da oncologia”, esclareceu.

Restantes ventiladores devem chegar “em voos faseados” nas próximas duas semanas

Questionado sobre os 443 ventiladores que faltam chegar, António Lacerda Sales referiu “dificuldades em procedimentos formais decorrentes da legislação chinesa”, o que justificou o atraso na chegada dos ventiladores. O secretário de Estado da Saúde reiterou que 65 ventiladores estão previstos chegar já no início da próxima semana, encontrando-se já na embaixada de Portugal em Pequim. Os restantes ventiladores deverão chegar nos “voos faseados” durante as próximas duas semanas.

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Sobre como a indústria portuguesa pode ou não dar resposta à falta zaragatoas, António Lacerda referiu que “tem sido extraordinariamente bom olhar para reconversão da indústria portuguesa”, deixando um agradecimento aos empresários nacionais. Sobre as zaragatoas, admitiu dificuldade de produção devido ao tipo de material “que tem de ser previamente avaliado”. “Ainda no domingo, chegam 900 mil testes a Portugal e anteontem chegaram 10 mil kits de extração manual”, o que se traduz num “grande reforço”. “São precisos todos estes elementos para fazer um teste. Isto em conjunto dá-nos uma boa capacidade de testagem”, disse.

Sobre como os hospitais se vão preparar para o alargamento das medidas de contenção, António Lacerda assegurou que as administrações regionais de saúde e as diferentes instituições já estão a fazer planos de recuperação para esse tipo de atividade, “aproveitando até novas metodologias usadas nesta crise, tal como como as consultas à distância”.

Regresso à normalidade será “feito com muitas alterações àquilo que era a rotina”

Marcelo Rebelo de Sousa já vê “a luz ao fundo do túnel”, António Costa prevê abrir pequeno comércio e creches em maio e o país começa a ver assistir a uma primavera que traz mais esperança, ainda que conscientes que não será um regresso ao que havia antes do confinamento. Graça Freitas adverte: será necessário preparar toda a gente para uma realidade diferente, uma realidade de reforço da higienização das mãos, da etiqueta respiratória, do distanciamento social e da constante limpeza de superfícies. Afinal, até que haja vacina todos conviverão de perto com o novo coronavírus.

Questionada sobre a utilização de máscaras no âmbito mais geral — além dos espaços fechados já recomendados pela DGS —, Graça Freitas voltou a recordar as medidas de prevenção já conhecidas: higienização das mãos, etiqueta respiratória, distanciamento social e limpeza de superfícies. Reafirmou que a DGS continua a acompanhar “a evidência e indicações internacionais ” sobre a utilização de máscaras que está a ser indicada para situações de fim de confinamento, que em Portugal só deverá acontecer faseadamente a partir de maio.

“Tudo terá que ser feito com muitas alterações àquilo que era a nossa rotina antes do aparecimento do novo vírus e da doença que originou. Vamos ter que balançar, voltar à normalidade possível, mas terá que ser executada com outro tipo de rotinas, outras práticas que são medidas de prevenção do contágio”, afirmou.

Sobre a chegada à terceira fase do estado de emergência e questionada sobre receio, por parte das autoridades de saúde, de que as pessoas comecem a assumir comportamentos de risco, Graça Freitas referiu que esse é “o ponto mais importante”. “Temos de tentar voltar à nossa atividade social e económica, mas de forma equilibrada”, referiu, mencionado que as medidas de contenção cumpriram a sua função através da obtenção de uma curva achatada no tempo.

“Vamos levantar as medidas e, ao mesmo tempo, temos de contrariar a atividade do vírus”, continuou. Aos serviços de saúde caberá identificar precocemente os casos, isolá-los, contê-los e tratá-los.

“A sociedade como um todo tem de contrariar a vontade do vírus em expandir-se. tes, disse. Graça Freitas acrescentou ainda que será preciso conciliar isto com a vontade de voltar a ter uma atividade social e económica: “Temos de ser muito disciplinados e coesos. Fazemos todos parte da solução”.

Questionada sobre se as medidas implementadas no Norte do país, a região mais afetada, poderão vir ou não a ser alteradas, a Diretora-geral da saúde garantiu que existem “realidades regionais e locais diferentes” e que não existe uma “situação uniforme de norte a sul”.

No Norte existem focos mais intensos da doença, separados geograficamente. “A avaliação do risco é sempre da responsabilidade das autoridades de saúde territorialmente competentes”, afirmou, referindo que as decisões são tomadas em conjunto com as autarquias e com os mecanismos municipais de proteção civil. O acompanhamento destas situações é feito a nível nacional. “É sempre uma decisão local e regional, depois é submetida a nível nacional.”

Sobre a caracterização da mortalidade, Graça Freitas prometeu mais detalhes para sábado e limitou-se a referir que a maior incidência de mortalidade se situa nas pessoas maiores de 60 anos, um valor superior a 80%, e que a maior parte destas apresenta mais do que uma doença. “Amanhã trarei toda a informação sobre a mortalidade. Estamos também a afinar mais formas de sabermos esta informação”, disse.