O secretário-geral da Sociedade Moçambicana de Autores (Somas) disse esta sexta-feira à Lusa que muitos músicos estão a passar situações dramáticas, devido à proibição de espetáculos, no âmbito do combate à pandemia da Covid-19.

“De todas as classes profissionais que pertencem à Soma, os músicos são os que estão a passar por situações dramáticas, porque trabalham para multidões, não fazem um trabalho solitário”, afirmou Jomalu, que é também músico. Jomalu frisou que antes da entrada em vigor do estado de emergência, no dia 1 deste mês, em Moçambique, os músicos já estavam proibidos de atuar em salas de espetáculos, restaurantes e bares.

A proibição seguiu-se ao alerta em março pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, sobre o risco de propagação da Covid-19, numa altura em que Moçambique não apresentava nenhum caso positivo da doença.

O secretário-geral da Soma avançou que a situação dos músicos se agravou com a interdição de festas familiares, como casamentos, aniversários e batismos, porque há muitos artistas procurados nesses eventos.

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Os eventos familiares são um mercado muito importante para muitos músicos, porque nos últimos anos cresceu o hábito de as famílias moçambicanos convidarem um músico para as suas festas”, referiu Jomalu.

O impacto da Covid-19 expôs a precariedade social dos músicos moçambicanos, porque em menos de um mês de falta de trabalho estão a enfrentar carências básicas, acrescentou. “Há colegas que vêm à Somas pedir empréstimos ou o adiantamento de pagamento de direitos de autor, mas nós não temos capacidade para isso”, frisou.

Álvaro Garcia, gestor do centro cultural da Associação Moçambicana de Músicos (AMM), disse à Lusa que o encerramento do setor do entretenimento devido à Covid-19 agravou a insegurança social dos músicos.

A lição que se tem de tirar desta situação é que a sociedade moçambicana no seu todo deve pensar na segurança social dos músicos, porque até é uma classe muito querida pelos moçambicanos”, observou Álvaro Garcia.

O facto de serem trabalhadores independentes, continuou, sem vínculo com nenhuma entidade patronal, agrava a condição económica e social dos artistas, concluiu. Os profissionais do entretenimento e criadores de arte, no geral, devem ter os seus direitos devidamente reconhecidos e remunerados, para que tenham capacidade de resistir em tempos de crise, notou Garcia.

O que os autores ganham em Moçambique está muito aquém do grande consumo da música, que está presente em todas as esferas da sociedade moçambicana”, frisou.

O número de casos registados oficialmente de infeção pelo novo coronavírus em Moçambique subiu de 29 para 31, anunciou na quinta-feira o Ministério da Saúde.

O país vive em estado de emergência, com escolas fechadas, ajuntamentos proibidos e imposição de rotatividade no trabalho, mas não foi determinado um “lockdown”, ou confinamento geral obrigatório, como sucede na vizinha África do Sul.

A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 145 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.