“Desde a privatização, o Estado não teve de colocar um euro na TAP e que agora, apesar das enormes dificuldades, o que precisamos é de uma garantia estatal para um financiamento e não um empréstimo direto do Estado”. A frase é de David Neeleman, que detém – juntamente com o empresário Humberto Pedrosa – consórcio Atlantic Gateway, dono de 45% do capital da companhia aérea portuguesa.

Em declarações – por escrito – enviadas ao Observador, David Neeleman disse que está “totalmente disponível” para colaborar com o Governo numa solução para a TAP. Isto numa altura em que o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, têm admitido a possibilidade de nacionalizar a companhia. No entanto, o acionista refere que a companhia tem propostas competitivas para se financiar e que o que precisa é de “uma garantia estatal”.

“Entre os diversos mecanismos disponíveis de apoio de Estado, a emissão de uma dívida garantida é o que vem sendo adotado com mais frequência pelos nossos concorrentes por ter uma série de vantagens, entre elas o tempo de execução que nesse momento é crucial para a TAP”, assegura o empresário.

“Como já disse o meu sócio Humberto Pedrosa, o pedido de ajuda solicitado ao Estado, que nos permitirá assegurar os postos de trabalho e a sustentabilidade da TAP, está em linha com o valor reembolsado pela TAP, nos últimos 15 meses, à banca de dívida garantida pelo Estado, que no momento da privatização era de 466 milhões de euros, pelo que o Estado não estaria a aumentar significativamente o seu risco em relação à TAP, mais do que há alguns meses”, acrescenta.

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Neeleman adianta que, na aprovação e reforço das medidas e quadros de apoio excecionais para ajudarem as companhias aéreas a garantirem a sua sustentabilidade, União Europeia e governos a nível mundial “sinalizaram também, desde cedo, aos mercados financeiros que uma das principais formas de apoio à recuperação da economia seria a prestação de garantias estatais a novos financiamentos obtidos pelas empresas”.

No entanto, no contexto das restrições, entretanto impostas pela pandemia, David Neeleman diz que “imediatamente” a TAP contactou “investidores europeus e de outras geografias no sentido de obter suporte financeiro adicional” para encarar os efeitos negativos desta crise e que, “de modo geral, os investidores mantêm o interesse em financiar a TAP, tendo apresentado propostas de financiamento bastante interessantes e competitivas, com garantia do Estado”. A companhia viu a sua atividade reduzida em 95%, recordou o acionista.

É nesta conjuntura que David Neeleman diz estarem “totalmente disponíveis para continuar a colaborar e a conversar com o Governo português de espírito aberto e construtivo”.

Na quinta-feira, o presidente do Conselho de Administração da TAP, Miguel Frasquilho, afirmou no parlamento que a transportadora “já endereçou um pedido de auxílio ao Estado português”, tendo expectativa de que uma resposta possa ser conhecida “muito em breve”.

“Mais do que nunca, todos temos de colaborar para que a TAP volte a voar assim que o espaço aéreo abrir”, refere David Neeleman.

“2019 foi um ano em que se consolidou o ‘turnaround’ [recuperação de valor] e, apesar do primeiro semestre desafiante, houve uma clara inversão dos resultados operacionais e financeiros no segundo semestre. Tendência que se manteve até fevereiro deste ano, que apresentou uma ‘performance’ operacional melhor que o período homólogo de 2019: o número de passageiros aumentou em 14% e as receitas aumentaram 17%”, afirma o empresário.

David Neeleman diz a este propósito que o investimento nos últimos anos na renovação da frota, tornando-a uma das “mais jovens e eficientes do mundo”, permite à transportadora “estar preparada” para o futuro e concorrência quando o mercado reabrir.

“Os desafios de curto prazo são profundos. Os resultados alcançados na transformação da TAP, fruto do trabalho que temos vindo a desenvolver em conjunto com o acionista Estado e com a dedicação dos nossos 10.000 trabalhadores, dão-nos confiança de que com união conseguiremos garantir que a nossa TAP continue o seu projeto de crescimento em rota segura”, conclui.

O Grupo TAP registou prejuízos de 105,6 milhões de euros em 2019, uma melhoria de 12,4 milhões de euros face às perdas de 118 milhões registadas em 2018.

Para além dos 45% dos privados da Atlantic Gateway, a TAP é detida em 50% pelo Estado, através da Parpública, e em 5% pelos trabalhadores.