Os americanos e os europeus não estão apenas separados pelo oceano Atlântico. No que respeita aos automóveis, divergem até no tipo de caixa de velocidades que preferem ver montada nos seus automóveis. Em 2006, cerca de 47% dos modelos oferecidos aos condutores locais pelos fabricantes que disputam o mercado norte-americano usavam caixa manual, valor que desceu para 27% em 2016 e apenas 13% em 2020.

Esta redução visou uma adaptação às necessidades dos consumidores. Sim, porque apesar de 13% dos modelos no mercado terem caixa manual, os condutores americanos apenas adquirem 2% de veículos com embraiagem e mudanças manuais. Um valor que colide com os hábitos europeus, onde pouco menos de 80% dos compradores preferem caixa manual, número que, ainda assim, tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos.

A preferência por caixas manuais ou automáticas depende muito do tipo de utilização a que os automobilistas submetem os seus veículos. Nos EUA, com limites de velocidade mais apertados e mais respeito pelas regras (sobretudo, porque as multas são substancialmente mais desencorajadoras), os condutores tendem a circular mais devagar, conferindo alguma vantagem às caixas automáticas. Na Europa, os hábitos são outros e o controlo policial também, pelo que um condutor de um modelo mais desportivo ainda retira vantagem de um tipo de utilização mais desportiva do seu veículo.

Durante anos, de um lado e outro do Atlântico, sempre existiu um número considerável de condutores que preferiam as caixas manuais, afirmando que estas davam mais gozo e que se destinavam a quem queria ter um maior controlo sobre o veículo, transmitindo a ideia – não necessariamente correcta – de estarmos perante condutores mais experientes ou dotados. Todo este sentimento começou a desmoronar-se quando marcas como a Ferrari, Lamborghini e McLaren começaram a deixar de oferecer caixas manuais, em todos ou pelo menos nos modelos mais emblemáticos, abraçando o automatismo nas transmissões.

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Outra machadada na veneração das caixas manuais caiu quando até a rapidez das mudanças de caixa ou o consumo proporcionado deixaram de ser um handicap nos modelos com mudanças automáticas. Isto aconteceu com a introdução das caixas de dupla embraiagem, com os fabricantes das caixas automáticas convencionais (com conversor de binário) a reagirem, propondo também caixas mais rápidas e com menor “deslizamento”, para não prejudicar os consumos. Com as novas transmissões automáticas, não só os arranques deixaram de ser penalizados, como os consumos passaram a não ser superiores aos proporcionados pelas caixas manuais, até aqui líderes neste domínio.

Os veículos eléctricos, apesar das suas vendas serem ainda reduzidas, contribuem igualmente para o fim das caixas manuais, uma vez que não necessitam delas, manuais ou automáticas. Basta-lhes uma desmultiplicação fixa, ou seja, um conjunto de dois carretos para funcionar como desmultiplicador da mais elevada rotação do motor eléctrico, tipicamente três vezes maior do que a que caracteriza um motor de combustão. O primeiro modelo eléctrico que surgiu com duas velocidades foi o Rimac, com a Porsche a seguir-lhe as pisadas, tanto mais que investiu no construtor croata para ter acesso à sua tecnologia. Contudo, faz todo o sentido num veículo a bateria que supere 300 km/h, ou até mesmo 400 km/h, mas tem ganhos irrisórios para velocidades abaixo desta fasquia.

Veja aqui como uma caixa automática moderna pode ser incomparavelmente mais rápida do que uma manual: