O presidente da Time Out Market disse esta terça-feira “confiar” que a obra do mercado em São Bento, no Porto, que incluí uma torre de 21 metros considerada “intrusiva” pela Unesco, possa avançar no último trimestre deste ano.

Em declarações à Lusa, João Cepeda afirmou que se os serviços da Câmara do Porto, que foram bastante diligentes em relação ao projeto de arquitetura, mantiverem o ritmo normal, é possível, apesar dos constrangimentos causados pela pandemia da covid-19, avançar para o terreno até ao final do ano.

Eu confio que, a continuar neste ritmo normal, possamos estar em boas condições para avançar no último trimestre deste ano”, afirmou aquele responsável.

O presidente da Time Out Market explicou que, depois da aprovação do projeto de arquitetura, o próximo passo é a apresentação dos projetos de especialidade, o que conta que possa acontecer nos próximos dois meses.

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As entidades todas que se pronunciaram favoravelmente já se tinham pronunciado antes. Não houve grandes surpresas, de qualquer maneira uma coisa é o PIP [Pedido de Informação Prévia] que é uma informação genérica, e outra coisa é o projeto de arquitetura que é mais detalhado. Foi aprovado nesses dois níveis pelas mesmas entidades e agora vamos à parte técnica”, referiu.

Num processo desta dimensão, acrescentou, o normal é que os serviços da autarquia ponham um conjunto de questões, e esse processo de “perguntas e respostas há de durar uns meses”.

“Acho que lá para setembro teremos novidades”, disse, acrescentando que só nesse mês poderá saber qual a data prevista para o arranque da obra.

Em março, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) emitiu um despacho favorável ao projeto do Mercado Time Out para a ala sul da Estação de São Bento, condicionado a acompanhamento arqueológico, nomeadamente “à realização prévia de sondagens e acompanhamento arqueológico dos trabalhos com afetação do subsolo”.

Na mesma altura, a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) e a Infraestruturas de Portugal (IP), detentora da estação ferroviária de São Bento, revelaram ter emitido pareceres favoráveis ao projeto, cujo “pedido de licenciamento”, esclarecia a autarquia a 17 de março, foi apresentado no final de janeiro e estava a ser analisado pelo município que aguardava os pareceres destas duas entidades externas.

À Lusa, o presidente da Time Out disse esta terça-feira que esse pedido de licenciamento ainda não foi apresentado, esclarecendo que o que foi aprovado foi o projeto de arquitetura”.

Inicialmente, a Time Out contava apresentar o pedido de licenciamento para o Mercado na Estação de São Bento até ao final de 2019 – antecipando o surgimento de questões técnicas – depois do Pedido de Informação Prévia (PIP) ter sido balizado pelo município a 9 de outubro.

O projeto do Mercado Time Out Porto para a ala sul da estação de São Bento, que incluiu espaços de restauração e bares, foi aprovado pela DGPC em maio de 2019, apesar das críticas da UNESCO quanto ao “tamanho intrusivo” da torre de 21 metros projetada para o local.

Num primeiro parecer, datado de 2 de abril de 2018, e a que a Lusa teve acesso, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – ICOMOS (organismo consultivo da UNESCO para o património), defendia que o projeto para a ala sul da estação era um “exemplo de demolição excessiva” e “fachadismo” e que “não devia ser aprovado”.

Indicava ainda que o projeto não tinha “em conta as recomendações internacionais em matéria de intervenção sobre património construído”.

Sobre a torre de 21 metros projetada pelo arquiteto Eduardo Souto Moura para o local, o ICOMOS considerava que “não terá impacto visual no meio envolvente”, uma vez que, “na sua cota máxima, não ultrapassa a cota da gare e termina abaixo do conjunto de casas localizadas na coluna adjacente”.

Entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019 foram enviadas ao ICOMOS mais informações sobre o projeto e, uma segunda avaliação, de março de 2019, referia que “a estrutura [torre] parece bastante grande, em comparação com o espaço comprimido disponível, numa parte da cidade já densamente construída” e recomendava uma “redução no tamanho da plataforma panorâmica”.