Os sobreviventes do Holocausto em Israel assinalam esta terça-feira o Dia da Memória do Holocausto numa situação que alguns comparam à que viveram durante a Segunda Guerra Mundial, sozinhos e com medo do desconhecido devido à Covid-19.
Alguns destes sobreviventes, já bastante idosos, dizem que o isolamento atual e a sensação de perigo provocaram memórias difíceis ligadas às suas experiências de guerra. Outros incomodam-se com a comparação feita com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando os nazis assassinaram sistematicamente cerca seis milhões de judeus.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Isto nunca se compara aos cinco anos que passei durante o Holocausto”, disse Dov Landau, de 92 anos, que sobreviveu a Auschwitz e a vários outros campos de extermínio, mas perdeu a sua família inteira. “Esta é uma doença temporária que passará”, acrescentou Landau.
O Dia da Memória do Holocausto (Yom HaShoah) é uma das datas mais solenes do calendário israelita. Os sobreviventes geralmente participam de cerimónias de lembrança, compartilham histórias com adolescentes e participam em marchas em antigos campos de concentração na Europa. Em vez disso, em plena crise do novo coronavírus, os sobreviventes esta terça-feira ficaram principalmente em ambientes fechados, nos seus apartamentos ou em casas de repouso.
A cerimónia central no país, que normalmente atrai milhares ao memorial nacional do Holocausto Yad Vashem, foi pré-gravada sem audiência. Com o museu adjacente fechado devido a restrições de reuniões públicas, as comemorações e exposições estão disponíveis na Internet.
Uma sirene soou esta terça-feira durante dois minutos às 10h (8h) para lembrar as vítimas do Holocausto. As pessoas interromperam o que estavam a fazer nas ruas e permaneceram paradas, com a cabeça baixa.
Mas este ano as ruas estão quase vazias. Cafés e restaurantes, que normalmente fecham para assinalar este dia, já estavam fechados. O país está em isolamento há mais de um mês, tentando impedir a propagação de um vírus que já matou 181 pessoas e colocou um quarto do país fora do trabalho.
Existem cerca de 180 mil sobreviventes do Holocausto em Israel e um número semelhante em outras partes do mundo.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, falou à população, aos sobreviventes do Holocausto e, em particular, às famílias das pessoas mortas no país pela Covid-19.
Enfrentamos muitas dificuldades hoje em dia, mas de nenhuma maneira estas podem se comparar à extinção metódica e diabólica de seis milhões de judeus”, disse Netanyahu, afirmando a importância para o seu povo de soberania nacional e a capacidade de se defender.
A primeira morte pela Covid-19 em Israel foi um homem que escapou dos nazis na Segunda Guerra Mundial, e pelo menos metade dos 14 residentes que morreram num lar de idosos particularmente afetado na cidade de Beersheba, no sul, eram sobreviventes do Holocausto.
Aviva Blum-Wachs, 87 anos, que sobreviveu à invasão nazi na sua cidade natal, Varsóvia, disse que a parte mais difícil da pandemia atual foi separar-se dos seus filhos, netos e bisnetos. No entanto, disse que não havia paralelo com a sua experiência de trauma na guerra.
Estávamos fechados no gueto. Não tínhamos comida nem telefone. Havia um medo horrível do que estava do lado de fora”, lembrou a mulher, na sua casa em Jerusalém. “Não há nada a temer agora. Nós apenas temos de ficar em casa. É completamente diferente”, acrescentou Aviva Blum-Wachs.
O Yad Vashem convidou o público a participar na sua cerimónia anual de leitura de nomes de vítimas, gravando vídeos em casa e compartilhando em suas plataformas da rede social. “Embora as circunstâncias deste ano sejam únicas, a mensagem ainda é a mesma: nunca esqueceremos os seus nomes”, disse Avner Shalev, presidente do Yad Vashem.
Pela primeira vez, a anual “Marcha dos Vivos”, que atrai jovens de todo o mundo para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polónia, também foi cancelada, e uma lembrança virtual foi lançada.
Fisicamente, podemos não estar lá, mas estamos a marchar virtualmente”, disse Shmuel Rosenman, presidente mundial da “Marcha dos Vivos”. “Continuaremos a educar as próximas gerações”, disse Shmuel Rosenman.
Para os frágeis sobreviventes do genocídio, os dias de hoje estão a ser principalmente focados em sobreviver ao novo coronavírus.