Desde o início da pandemia, e com o agravar da mesma, que o apoio, o louvor e a admiração aos profissionais de saúde se tem massificado e generalizado em quase todos os países. Médicos, enfermeiros, auxiliares, bombeiros e farmacêuticos, entre outros, têm sido protagonistas de homenagens, de demonstrações públicas e de salvas de palmas nas varandas de muitos países. Existe, porém, uma exceção.

Na Índia, o governo indiano foi agora forçado a ativar uma ordem executiva urgente para evitar e solucionar os consecutivos ataques e agressões a profissionais de saúde que têm acontecido no país. “Os profissionais de saúde que estão a tentar salvar o país desta pandemia estão, infelizmente, a sofrer ataques. Nenhum incidente de violência ou assédio contra eles será tolerado”, disse Prakash Javadekar, membro do governo indiano, segundo a CNN.

Índia: como fechar um país de 1,3 mil milhões de pessoas

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“Estes crimes vão passar a ter pena e não terão possibilidade de saída sob fiança. As investigações estarão concluídas em 30 dias”, acrescentou o ministro, antes de concluir que todos os acusados enfrentarão uma pena de prisão que pode ir de seis meses a sete anos. A decisão do governo, que se seguiu a uma condenação pública destes episódios aliada a um pedido de apoio aos profissionais de saúde na semana passada, foi especialmente engrossada por um protesto de dois dias anunciado pela Associação Indiana de Médicos – entretanto suspenso depois de uma reunião com os ministros da Saúde e da Administração Interna que terá sido crucial para a ordem acionada pelo executivo liderado por Narendra Modi.

Desde o início da pandemia que a Índia tem registado vários ataques à integridade física dos profissionais de saúde em diferentes contextos: ou quando visitam bairros que têm residentes que são casos suspeitos, como aconteceu em Bengaluru, ou quando são abordados pela própria polícia quando estão a regressar a casa, como aconteceu em Bhopal, ou até quando estão simplesmente a fazer compras, como aconteceu em Nova Deli. A Bloomberg explica que os profissionais de saúde são vistos como focos de contágio, possíveis transportadores do vírus e pessoas que representam um risco acrescido. Os vídeos dos ataques, pelas próprias mãos ou através do arremesso de objetos, têm sido partilhados nas redes sociais.

Ainda assim, e apesar de se verificar um agravamento da situação desde que a pandemia da Covid-19 chegou à Índia e obrigou a um confinamento generalizado de um país com 1,3 mil milhões de habitantes que se vai prolongar pelo menos até 3 de maio, a verdade é que este flagelo está longe de ser uma novidade. As fracas condições do serviço de saúde indiano, aliadas aos problemas nas infraestruturas e à falta de rapidez de resposta em situações de emergência, motivam em larga escala estes episódios. A pandemia, explica a Bloomberg, veio dar mais uma justificação a uma população que já responsabilizava os profissionais de saúde pelos problemas transversais no serviço de saúde nacional.

Nos últimos dez anos, período em que se multiplicaram os casos de agressões físicas ou verbais a profissionais de saúde, os sucessivos governos do país têm tentado implementar leis para garantir a segurança destes trabalhadores – como a colocação de seguranças à porta dos hospitais, a confiscação de armas à entrada, o registo obrigatório de todas as pessoas que entrem nas instalações e até a criação de um protocolo de emergência e evacuação em caso de situação de extrema violência. Ainda assim, estas medidas têm tido dificuldade em serem alvo de aprovação por resistência continuada de alguns elementos do parlamento.