A utilização de máscaras faciais de proteção em espaços fechados é recomendada pelas autoridades de saúde, mas apenas quando não é possível manter o distanciamento social — e na Assembleia da República, durante as celebrações do 25 de Abril isso será possível. Quem o afirmou foi a Diretora Geral da Saúde, Graça Freitas, que apontou esta quinta-feira, em mais uma das conferências de imprensa diárias relativas à Covid-19 em Portugal:

É um edifício grande, tem uma área grande, tem uma parte de baixo e galerias e estarão garantidas todas as condições para que as pessoas estejam em distanciamento social. Existem circuitos de entrada, de saída, as pessoas não se cruzam necessariamente. Creio que os serviços são autónomos nessa ação, têm um plano de contingência excelente e temos que ver as condições arquitetónicas do edifício e a taxa de ocupação”, apontou Graça Freitas.

A Diretora Geral da Saúde deu como exemplo o que acontece nas conferências de imprensa diárias, em que estão presentes elementos da DGS e Governo e alguns jornalistas: “Temos feito estes encontros [conferências de imprensa] e não temos usado máscara porque estamos todos a uma distância segura. Dentro desta sala conseguimos, com a lotação, manter o distanciamento social. Não precisamos de máscaras”. O mesmo é possível nas comemorações do 25 de Abril no Parlamento, por onde deverão passar algumas dezenas de pessoas este sábado, defendeu.

Graça Freitas alertou ainda que a utilização de máscaras faciais é apenas uma entre várias medidas de proteção para evitar a propagação do surto: “As máscaras não são a solução única, se não todos os problemas da humanidade estavam resolvidos neste momento, bastava toda a gente usar máscaras”. As medidas de contenção, que incluem também a aplicação de distanciamento social, a desinfeção frequente e lavagem de superfícies e medidas de higiene pessoal como lavagem de mãos e utilização de soluções alcoólicas desinfetantes, devem ser aplicadas no seu conjunto, defendeu a Diretora Geral da Saúde.

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“Os lares são sítios de preocupação”, diz Graça Freitas

Questionada sobre a possibilidade de decretar a obrigatoriedade da sua utilização no futuro, Graça Freitas começou por dizer que as máscaras são obrigatórias apenas em alguns contextos clínicos e “as recomendações e orientações” da DGS “são apenas isso”. Mas se algumas entidades e serviços limitarem o acesso a clientes, utentes ou estudantes — no caso das escolas — mediante utilização de máscara, poderão fazê-lo. Não podem é descurar outras medidas de segurança.

Se um determinado estabelecimento comercial, uma escola, um banco, considerar que para manter a segurança dentro da sua instituição, quer reforçar as outras medidas — o distanciamento social, a disponibilidade de solução alcoólica, a desinfeção frequente das superfícies, portas e manetas — e considera importante e essencial a utilização de máscaras, pode fazê-lo. O que não pode é descurar nenhuma das outras medidas”, referiu

A Diretora Geral da Saúde explicou ainda que paralelamente às máscaras respiradoras, “que dão proteção máxima e são usadas por profissionais de saúde em certas circunstâncias” e as “chamadas máscaras cirúrgicas, as mais conhecidas”, as autoridades nacionais estão ainda a garantir que haverá oferta também de “uma nova classificação de máscaras, que são de uso comunitário ou sociais” e que foram criadas “a propósito desta pandemia”.

Mesmo as máscaras “de uso comunitário ou sociais” devem ter “critérios de qualidade”, alertou Graça Freitas. Por isso, “foi constituída uma comissão, uma task-force, com várias instituições” e coordenada pelo Infarmed para que em conjunto com “a indústria portuguesa e a instituição que regula a qualidade dos têxteis em Portugal” sejam fabricadas máscaras em quantidade e “com alguma qualidade e capacidade de filtração”. A indústria portuguesa foi chamada a produzir este equipamento com “requisitos que foram estabelecidos por esta task-force” e que foram transmitidos “aos produtores”.

Boletim DGS. Segundo dia com menor aumento percentual de novos casos e mais mortos, taxa de mortalidade sobe para 3,67%

Na conferência de imprensa de esta quinta-feira, o Governo, através do secretário de Estado da Saúde António Sales, avançou ainda números novos relativos à quantidade de testes de diagnóstico ao novo coronavírus feitos em Portugal: no país já foram feitos mais de 300 mil testes (302.000, nomeadamente). Por milhão de habitante, Portugal está a realizar mais testes de diagnóstico do que “países como a Noruega, Suíça, Itália e Alemanha”, apontou o secretário de Estado.

Ventiladores com “indicadores e botões” em mandarim

Também durante a conferência de imprensa de esta quinta-feira, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, respondeu a uma questão relativa ao funcionalismo dos ventiladores em Portugal. Há casos de equipamentos que têm indicações em mandarim, que poderão dificultar o seu uso por profissionais de saúde.

O secretário de Estado da saúde reconheceu isso mesmo, mas garantiu que não é problema até porque mesmo estes têm também “indicadores universais”. Admitiu, ainda assim, a hipótese de eventuais ações de formação sobre manuseamento e utilização destes equipamentos se for necessário:

Tivemos de recorrer ao mercado e em termos de ventiladores ao mercado chinês. Sabemos que parte dos ventiladores vêm com indicadores e botões em chinês, mas também sabemos que nesses ventiladores existem indicadores universais, que permitem ter acesso relativamente fácil. De qualquer das formas, se houver casos em que tal não aconteça, com certeza haverá capacidade de fazer a formação dos respetivos profissionais nos indicadores, o que facilitará a utilização”, apontou.

O secretário de Estado corroborou ainda a hipótese de que as universidades venham fazer testes serológicos aos seus alunos para aferir da sua exposição anterior ao vírus. A hipótese tinha sido levantada pelo ministro da Ciência, Manuel Heitor, em entrevista ao Observador. A hipótese foi, contudo, chutada para um futuro que poderá não estar assim tão próximo, dado que António Sales recordou que ainda está para começar um projeto piloto “para se começar a fazer uma validação da metodologia relativamente a estes testes serológicos”.

Os testes que existem atualmente permitem apenas detetar o teor de anticorpos que quem for testado já terá face ao vírus e detetar se o testeado teve ou não a doença no passado, mesmo que não tenha tido sintomas — mas ainda não permitem perceber o grau de imunização face a possíveis infeções (ou reinfeções) futuras nem o tempo durante o qual os anticorpos permanecerão ou não no sangue de pessoas previamente infetadas.

Quando as normas da DGS “não batem certo com a realidade”

Outro dos temas abordados foi o índice R, que calcula a quantidade de pessoas que cada infetado estará a contagiar. Em Portugal, esse índice está próximo de 1, apontou Graça Freitas: “Estamos equilibrados, nalgumas regiões acima de um, noutras ligeiramente abaixo; por isso temos andado no planalto, com alguma tendência decrescente, mas ainda é cedo para dizermos. Estamos no ponto de equilíbrio”.

Apesar do R índice ser um dado relevante para o alívio, cauteloso e com medidas compensatórias, das ações de contenção decretadas — como o confinamento generalizado —, não é fator único nem absoluto, explicou ainda a Diretora Geral da Saúde: “Descomprimir ou não as medidas depende da curva epidémica, de como evolui, da capacidade do sistema ter folga e aguentar. Sabemos que quando descomprimirmos as medidas, a curva sobe”. Outro dos critérios é a capacidade de os países motorizarem a curva e a capacidade dos sistema de saúde para responder a estimativas de aumentos de contágio.