A economia timorense poderá recuar entre 5 e 15% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano devido ao impacto da pandemia da Covid-19, dependendo da duração do estado de emergência, segundo as previsões do governo.

As estimativas às quais a Lusa teve acesso foram preparadas pelo gabinete do ministro coordenador interino dos Assuntos Económicos, Fidelis Magalhães, e apresentadas esta semana às comissões relevantes no parlamento timorense.

Os cenários têm em conta que, mesmo antes do impacto da Covid-19 em Timor-Leste, as previsões apontavam já para uma contração do PIB real de 2,8%, em virtude da situação de impasse político e do chumbo do Orçamento Geral do Estado (OGE) – o país está a duodécimos desde 1 de janeiro.

Acima desse valor de contração base, o governo antecipa que, com um mês de duração do estado de emergência (que termina domingo), a quebra económica aumenta 2,2 pontos percentuais, para um recuo de 5%.

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Se o estado de emergência for alargado mais um mês — o parlamento debate essa possibilidade na próxima semana – o recuo adicional será de 7,2 pontos percentuais, para uma contração total de 10%.

E, na eventualidade de se alargar por um terceiro mês, o recuo adicional será de 12 pontos percentuais, para 15% de contração do PIB, com “danos à economia timorense a durarem para lá de 2020”, com a estimativa de um impacto ainda no próximo ano.

Assim, no cenário mais otimista, o PIB em 2020 recuaria para 1,55 mil milhões de dólares (1,44 mil milhões de euros) – equivalente ao valor de 2014 – e no cenário médio para 1,47 mil milhões de dólares (1,37 mil milhões de euros), valor que não se verifica desde 2013. No pior cenário, o PIB cairia para 1,39 mil milhões de dólares (1,29 mil milhões de euros), que representa um recuo de 7% face aos níveis de 2013.

Essa contração económica teria um impacto significativo na economia das famílias timorenses, com “menos 208 dólares para gastar em 2020 e 2021″, no cenário mais otimista, menos 530 dólares no cenário médio e até menos 845 dólares no cenário mais pessimista.

“Os cenários médio e alto levarão ao aumento do número de famílias que enfrentam défice alimentar e dificuldades financeiras. Podemos esperar ver aumentos de nanismo, desnutrição, desemprego e outros efeitos”, refere-se no documento.

Para colmatar parte dos problemas, o governo aprovou um amplo pacote de medidas socioeconómicas com um custo estimado de 142 milhões de dólares (131,9 milhões de euros) até agosto, segundo dados oficiais do Executivo disponibilizados à Lusa.

As contas, feitas pelo gabinete do ministro coordenador interino dos Assuntos Económicos e disponibilizadas à Lusa, mostram que a maior fatia dos gastos, cerca de 89 milhões de dólares (82,65 milhões de euros) vai para apoios diretos.

O segundo pilar de despesas significativas é com a distribuição de bens essenciais, pacote que custará mais de 24 milhões de dólares (22,29 milhões de euros).

O governo vai ainda gastar cerca de 4,8 milhões de dólares (4,46 milhões de euros) com um programa, já iniciado pelo Ministério da Agricultura e Pescas, para estímulos à produção na costa sul com apoios a cerca de 36 mil agricultores e pescadores.

A análise do governo tem em conta estimativas internacionais de que o PIB pode contrair entre dois e cinco por cento por cada mês em que se apliquem medidas de resposta à Covid-19, incluindo distanciamento social, adaptando esses números à realidade timorense.

A análise do governo considera que sem a vacina se possam prolongar durante vários meses as quarentenas, restrições de viagem e proibições temporárias de entrada para limitar a propagação do vírus.

Antecipa-se ainda uma redução na oferta de mão-de-obra devido à ausência ou dos trabalhadores, especialmente se o vírus se propagar em Timor-Leste onde as atuais condições de saúde de muitos timorenses podem agravar o impacto.

Pode ainda haver interrupções na cadeia de fornecimentos, atrasos e falta de produtos e eventuais aumentos dos preços de importação de alimentos básicos, como o arroz.

Do lado do consumo, poderá haver quedas devido à perda de confiança, incerteza, quedas no rendimento e menos entradas no país.

Timor-Leste tem atualmente 24 casos confirmados de Covid-19, dois dos quais recuperados.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias France-Presse, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 190 mil mortos e infetou mais de 2,6 milhões de pessoas em 193 países e territórios, com mais de 708 mil doentes considerados curados.