Depois de as imagens que mostravam centenas de cadáveres espalhados nas ruas e também pilhas de caixões nos hospitais do Equador servirem de indicador de que a pandemia da Covid-19 estava fora de controlo naquele país da América do Sul, o The New York Times vem agora estimar que o verdadeiro número de mortes pode ser 15 vezes superior ao que indicam as autoridades equatorianas.

O cálculo feito por aquele jornal baseia-se no número de mortes anunciadas pelo Governo do Equador e no excesso número de mortes, onde se incluem as que não foram atribuídas à Covid-19. Entre 1 de março e 15 de abril, as autoridade equatorianas apontavam para 503 mortes pelo novo coronavírus — e que, na última contagem, desta quinta-feira, subiram apenas para 560. Porém, os números oficiais demonstram que houve uma subida de 7.600 mortes (sem referência à sua causa) entre 1 de março e 15 de abril, quando comparado com o mesmo homólogo de 2019. Ou seja, um valor aproximadamente 15 vezes maior do que aquele que as autoridades reconhecem.

Em colapso, os equatorianos escolhem entre deixar os mortos em casa ou na rua

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Caso essas 7.600 mortes adicionais tenham sido causadas pela Covid-19 — uma conclusão que dificilmente será possível comprovar cientificamente na sua plenitude, dada a fraca capacidade do Equador de testar a sua população —, este país poderá ser o 6º país com mais mortes em todo o mundo e com uma média de 444 mortes por cada milhão de habitantes. Ou seja, mais do que Itália (423) e quase tanto como Espanha (479).

Este não é um tema tabu, no Equador. A possibilidade de os números verdadeiros desta pandemia serem superiores à contagem oficial já tinha sido admitida pelo próprio Presidente do Equador, Lenín Moreno, a 2 de abril. “Sabemos que tanto para os números de contágios como para os falecimentos os números oficiais ficam por baixo. A realidade supera sempre o número de testes e a velocidade com que se presta atenção à situação”, admitiu à altura, obrigado a pedir desculpas ao país numa altura em que surgiam imagens de cadáveres nas ruas, perante a incapacidade de funerárias e hospitais.

A 22 de abril, o jornal equatoriano El Comercio escrevia em que, além da fraca capacidade para testar a população para a Covid-19, a dificuldade em contar as mortes por aquela doença no Euqador também se prende com a descentralização dessa organização estatística. De acordo com o El Comercio, há quatro ordens de números oficiais: os mortos confirmados por Covid-19, os mortos que são “prováveis” vítimas de Covid-19 mas que carecem de confirmação; depois os mortos anunciados pelas províncias; e por fim a contagem feita pelas autoridades centrais.

“Em conclusão, ao final de cinco semanas de quarentena, o Equador não conta com um número total, real e confirmado de mortes por coronavírus nas 24 províncias e, especificamente, [pelos 221] cantões”, escreveu o El Comercio.