O impacto da pandemia no turismo é maior do que o esperado, reconheceu esta sexta-feira o presidente da Turismo do Centro, que defende apoios a fundo perdido para microempresas, moratórias alargadas e dilação dos prazos de pagamentos de empréstimos.

“A prioridade tem de ser salvar empresas para salvar empregos”, disse à agência Lusa o líder desta entidade regional que agrupa cem municípios, Pedro Machado, que considera “claramente insuficientes” as medidas do Governo para o setor do turismo.

O presidente da Turismo do Centro coloca-se ao lado dos empresários que pedem novas medidas, mais favoráveis, e que têm alertado para a necessidade de “obrigar” a banca a apoiar um setor que tem sido o motor da economia nos últimos anos, em que foram batidos recordes de receitas e visitantes, no país e em especial na região Centro.

“O endividamento não pode ser a única solução para a crise” provocada pela pandemia Covid-19, diz Machado, que defende a injeção direta de capital em empresas familiares e microempresas através de apoios financeiros a fundo perdido.

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O líder da Turismo do Centro lembra que existem muitas pequenas empresas, nas áreas de turismo rural ou animação turística, por exemplo, sem “cash flow” (liquidez) que lhes permita sequer fazer face a situações de microcrédito.

Essa realidade é mais visível em territórios de baixa densidade, como é o caso do Centro do país. Sem previsão de receitas, as empresas não podem correr o risco de se endividar, mesmo com condições especiais de pagamentos e juros.

É patriótico salvar estas empresas que operam junto das populações, em territórios de baixa densidade”, defende.

No âmbito das linhas de financiamento decretadas pelo Governo, as microempresas beneficiam atualmente de um “Apoio à Tesouraria para Microempresas do Turismo – COVID-19”, correspondente ao valor de 750 mensais euros por cada posto de trabalho existente na empresa em 29 de fevereiro de 2020, multiplicado pelo período de três meses, até ao montante máximo de 20 mil euros, com um período de carência de três meses e reembolso em três anos, sem juros.

Machado defende ainda o alargamento, pelo menos durante mais um ano do que o previsto, das moratórias bancárias decretadas pelo Governo em relação aos créditos bancários no setor do turismo, considerando insuficiente o prazo até 30 de setembro.

O responsável dá como exemplo a Alemanha, onde os prazos já foram alargados, depois de o Governo de Angela Merkel ter chegado à conclusão de que o turismo vai precisar de pelo menos três anos para recuperar do impacto das medidas de confinamento decretadas no mundo inteiro.

Esta linha de raciocínio funciona também para o alargamento dos prazos de pagamento, através da suspensão automática de reembolsos de capital e juros, dos incentivos do Turismo de Portugal.

Machado é especialmente crítico da atuação da banca, denunciando a existência de dificuldades inesperadas e difíceis de explicar nas linhas de apoio à economia decretadas pelo Governo. “Há bancos que estão a dar respostas negativas [às empresas] sem dar explicação“, revela Machado, garantindo que tem conhecimento de casos na região Centro.

O presidente da Turismo do Centro defende que o início do pagamento destes financiamentos passe de 2021, como está previsto, para uma data posterior, preferivelmente 2023, uma vez que dificilmente as empresas do setor terão capacidade financeira para suportar as adaptações que terão de ser feitas, daqui para a frente, para assegurar o regresso dos turistas.

“Volto ao princípio: o que está em causa é salvar empresas para salvar empregos”, conclui.