Ansiedade, insónia e stress foram as queixas mais relatadas pelas centenas de profissionais de saúde e milhares de utentes que recorreram às consultas de saúde mental criadas no âmbito da pandemia Covid-19, anunciou esta terça-feira ARSLVT.

No dia 15 de março foram criadas consultas específicas de apoio em saúde mental aos utentes, familiares e profissionais de saúde de 15 agrupamentos de centros de saúde (ACES) e dos serviços de psiquiatria dos 16 hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo.

Para tal, foram disponibilizados contactos telefónicos e emails, podendo a consulta ser também presencial, no âmbito da intervenção em Saúde Mental em contexto de catástrofe, adianta em comunicado o Gabinete de Crise da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, que faz “um balanço positivo da operação”.

Segundo a entidade, a “ansiedade, insónia e manifestações somáticas do stress e ansiedade são as situações mais relatadas por aqueles que recorrem a este serviço”.

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O nosso mundo mudou e há uma grande incerteza quanto ao futuro. É normal ter medo, mas o importante é tentar encontrar estratégias para lidar com ele”, afirma a coordenadora Regional de Saúde Mental da ARSLVT, Teresa Maia.

“Apesar de utentes e profissionais estarem a demonstrar grande resiliência, estas consultas são fundamentais e neste primeiro mês foram acompanhadas centenas de profissionais e milhares de utentes”, refere a psiquiatra no comunicado. Os centros de saúde e os serviços de psiquiatria estão envolvidos de “forma concertada e articulada”, para permitir “o acompanhamento regular” a quem precisa.

“Desde o primeiro momento que a saúde mental foi uma das nossas preocupações na região, dadas as características e as implicações desta pandemia”, afirma o presidente da ARSLVT, Luís Pisco, destacando a proatividade da equipa e dos profissionais envolvidos.

Os serviços de psiquiatria hospitalares, além de garantirem o apoio a profissionais, deram “prioridade às pessoas com doenças psiquiátricas que apresentam quadros de maior gravidade e aos mais vulneráveis, garantindo ou reforçando o seu acompanhamento e medicação, quer seja no ambulatório, internamento ou nos serviços de urgência”, sublinha o comunicado.

“Os serviços reorganizaram-se e passaram a desenvolver mais a teleconsulta, mantendo-se em presença física o acompanhamento de doentes mais graves”, acrescenta.

Foram também desenvolvidas medidas preventivas para os profissionais, através da produção de vídeos, com indicações de como melhorar a comunicação, permitir a verbalização de emoções, criar um clima de segurança emocional e “normalizar sintomas que não são sinónimos de doença mental”.

“O papel de quem chefia é fundamental. Quem coordena deve estar mais atento àqueles que por algum motivo podem estar mais vulneráveis, ou porque tem antecedentes, ou porque está mais sozinho, sem grande rede de suporte”, defende Teresa Maia.

Nos ACES, além das consultas a profissionais, também têm sido desenvolvidas estratégias de prevenção do stress e do burnout, bem como estratégias de proximidade às equipas que se encontram no terreno, com especial enfoque daquelas que trabalham nas Áreas Dedicadas Covid-19 (ADC).

A intervenção inclui ainda um trabalho de articulação em termos regionais com a saúde pública, a área das dependências, os cuidados continuados, bem como na área da violência doméstica e núcleos de apoio a crianças e jovens.

“Temos trabalhado com os nossos parceiros da comunidade, que vão desde as estruturas autárquicas, às associações de apoio aos sem-abrigo, IPSS, forças de segurança, entre outras. Só desta forma as respostas poderão ser realmente eficazes e ter continuidade”, afirma a psiquiatra Teresa Maia.

Portugal contabiliza 948 mortos associados à Covid-19 em 24.322 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia divulgado esta terça-feira.