Em 2003 a comunidade científica demorou cerca de 9 meses para terminar com a propagação da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), mas para já a perspetiva a longo prazo para o Sars-Cov-2 é outra. Tudo aponta para que o novo coronavírus, responsável pela Covid-19, possa regressar todos os anos, tal e qual como acontece com o vírus da gripe comum. Pelo menos é esse o alerta que os cientistas chineses vão deixando, consoante a análise daquilo que se sabe até ao momento do novo vírus. Um dos principais “problemas” serão mesmo os doentes assintomáticos, que são capazes de transmitir a doença sem saberem sequer que estão infetados.

“É muito provável que seja uma epidemia que coexista com os seres humanos durante muito tempo, que se torne sazonal e seja sustentada pelos corpos dos seres humanos”, afirmu Jin Qi, diretor do Instituto de Biologia de Patógenos da Academia de Ciências Médicas, citado pela agência Bloomberg.

Aquilo que ajudou a parar a Sars é agora um dos principais entraves à eliminação da Covid-19. No início do novo milénio, os doentes doentes com Sars tinham vários sintomas o que permitia isolá-los rapidamente das outras pessoas e parar a cadeia de contágio. Sabe-se agora que com a Covid-19 há vários doentes infetados sem qualquer sintoma e que também transmitem a doença — ainda que inicialmente não estivesse claro que o doente assintomático pudesse ser transmissor.

Numa altura em que já se registaram mais de três milhões de infetados em todo o mundo, com cerca de 930 mil recuperados e 210 mil mortos, as taxas de imunidade da população são ainda baixas, com a maior parte dos países a optar por impor restrições à circulação de pessoas e confinamento domiciliário para travar o contágio e tentar impedir que os serviços de saúde entrassem em colapso como aconteceu em Itália ou em Espanha. Ainda assim, para aqueles que foram expostos ao vírus não há grandes certezas sobre o nível de imunidade, com a Organização Mundial de Saúde a afirmar que não se sabe qual é “o nível de proteção nem quanto tempo durará” depois de inicialmente ter avançado que “não há provas de que as pessoas que recuperaram da Covid-19 tenham anticorpos e estejam protegidas de uma segunda infeção”.

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Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infeciosas e um dos membros da task force criada pela Casa Branca, também já vai precavendo os norte-americanos para que a Covid-19 passe a ser uma “doença sazonal”, que regressará de tempos a tempos, sem que se consiga erradicar totalmente. Já sobre a eventual ajuda dos meses mais quentes no controlo da pandemia, com a chegada do verão, os cientistas chineses continuam cautelosos face ao desconhecimento que ainda existe sobre o comportamento do vírus. “O vírus é sensível ao calor, mas quando é exposto a 56ºC durante 30 minutos. A temperatura ambiente nunca vai aquecer assim tanto”, afirmou Wang Guiqiang responsável pelo departamento de doenças infecciosas do Peking University First Hospital, acrescentando que “globalmente, mesmo durante o verão a hipótese do número de casos diminuir significativamente é pequena”.