Não há em Portugal nenhum caso de crianças com reações raras à Covid-19, como aconteceu em Itália e no Reino Unido. A confirmação foi dada na habitual conferência de imprensa que traça o cenário da pandemia em Portugal, com a diretora-geral da Saúde a afirmar que os pediatras “e os médicos em geral estão a acompanhar a situação”.

Ao lado de António Lacerda Sales, Graça Freitas deu o esclarecimento final aos jornalistas sobre a síndrome registada por especialistas ingleses e italianos, em crianças infetadas e cujos sintomas passam por complicações inflamatórias ou distúrbio nos vasos sanguíneos. Sem casos do género em Portugal, a diretora-geral da Saúde tinha já deixado, pouco antes, um apelo para que os pais não deixassem de vacinar as crianças. “É seguro vacinar, é seguro ir ao centro de saúde e é a única forma de proteger contra doenças”, reforçou.

Quando foram questionados pela SIC e pela TVI sobre um tema que muitas dúvidas tem causado, a conferência de imprensa desta quarta-feira deu lugar a um outro esclarecimento: “em Portugal, não é possível alguém ser enterrado sem certidão de óbito”, que são dados pelos médicos. Graça Freitas defende que Portugal é dos que vai mais longe e é mais abrangente na contagem dos mortos e clarificou que no país contam-se não só as mortes por Covid-19, como também quem morreu por outras razões e estava infetado.

No dia em que se registou o segundo valor percentual mais baixo no número de infetados, 0,8%, a diretora-geral da Saúde sublinhou que 93% das mortes causadas pelo vírus “ocorreram em meio hospitalar”.

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Conseguimos uma “onda descendente”

Pouco antes, António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, voltava a deixar o alerta de que é necessário cautela para o pós-estado de emergência: “não queremos estar desprevenidos numa segunda vaga e temos de criar uma almofada para prevenir” essa hipótese, afirmou. Desde o início da semana que Lacerda Sales tem feito este reforço, com o aproximar do alívio das medidas e é para esta nova fase que se começa a olhar. “a pandemia continuará a fazer parte das nossas vidas”, disse no início da conferência desta quarta-feira.

Depois de Portugal ter conseguido aplanar a curva e de ter agora “uma onda descendente”, segundo Graça Freitas, a ameaça de uma incapacidade de resposta do SNS mantém-se no pior dos cenários. Por isso, Lacerda Sales admitiu recorrer a “programas adicionais”, quer no privado, quer no setor social, para gerir as respostas às patologias não-Covid, ainda que defenda dar prioridade “à capacitação do Serviço Nacional de Saúde para essa necessidade”.

No final, resumiu os números que suportam a gestão da pandemia: “há um parque global de 21.500 camas para agudos, sendo que 11 mil são de especialidades médicas e as restantes são para especialidades cirúrgicas”. Há mil pessoas internadas e 86 em domicílio, “o que confere algum conforto” ao Serviço Nacional de Saúde, acrescentou.

“Uma das preocupações do governo é não deixar vulneráveis sem resposta”

Parte da conferência desta quarta-feira foi dedicada às vítimas de violência doméstica e às populações mais vulneráveis. Por isso, a acompanhar o secretário de Estado da Saúde, esteve Daniela Machado, do programa nacional de prevenção da violência no ciclo de vida, que deixou uma mensagem-chave: “a pandemia faz adoecer fisica e psicologicamente”, pelo que é importante estar alerta.

“Estas são situações que provocam traumas que devem ser prevenidos sobretudo quando estamos a falar de crianças que replicam comportamentos”. Com “comportamentos”, Daniela Machado referia-se à violência doméstica, que, para Lacerda Sales, “não pode ser esquecida”. Os números que o próprio mencionou – uma queda superior a 30% no volume de denúncias – era um dos maiores receios das associações de apoio à vítima. Como explicou o Observador, o confinamento doméstico com os agressores torna mais difícil a possibilidade de as vítimas pedirem ajuda.

Por esse motivo, o secretário de Estado da Saúde recordou um plano de ação contra a violência no contexto da Covid-19, de que fazem parte linhas que prestam informações e através das quais se podem notificar as forças de segurança. Ao todo, estes canais receberam 308 pedidos de ajuda.