Foi uma audição longa e com expressões fortes, algumas duras, repetidas mais do que uma vez. Na semana passada no parlamento, Pedro Nuno Santos, o ministro das Infraestruturas que tem a tutela da TAP, falou pela primeira vez sobre o pedido de ajuda ao Estado e com críticas à forma como a companhia tem sido gerida pelos privados.

Empréstimo de 350 milhões não chega para resolver problema da TAP. Se é o povo a pagar, “é bom que seja o povo a mandar”.

A intervenção não agradou certamente aos acionistas parceiro do Estado na TAP, que não se manifestaram ainda publicamente, e suscitou reações distintas por parte dos representantes dos trabalhadores. Uma contra e outra a favor.

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Este domingo, numa carta aberta remetida por mail ao ministro das Infraestruturas e ao primeiro-ministro, André Teives, trabalhador do grupo TAP e presidente do Sindicato dos Técnicos de Handling, acusou Pedro Nuno Santos de “não ter a mínima noção do que se passa no mundo da aviação (nas empresas portuguesas em geral também não, mas já voltaremos ao tema) em que só a IATA (associação internacional de companhias aéreas) prevê necessidades que ascendem aos 200 mil milhões de euros (quase o nosso PIB anual) ou a falência de metade das companhias aéreas no mundo”.

Questionando a tese do ministro que “a situação da TAP já era muito má antes da pandemia”, Teives faz a pergunta: “Referia-se ao quê no concreto?”. O representante dos trabalhadores cita o primeiro-ministro, a quem também enviou a carta-aberta, para sublinhar que até António Costa reconhece que a dívida de 800 milhões da TAP invocada pelo ministro no Parlamento, tem de ser enquadrada nos avultados investimentos que a TAP fez, nos últimos anos. A companhia fez estes investimentos “com vista ao seu crescimento, que foi abruptamente interrompido, no Mundo inteiro, não foi apenas na TAP”.

O dirigente sindical acusa o ministro que tutela a companhia de nada ter feito ainda pela TAP. “O que já fez V/Exa. e o seu Governo sobre este tema, ao fim de quase dois meses? NADA”, acrescentando que o ministro estará mais focado em analisar “a forma de não ficar para trás na corrida à liderança do seu partido”, criticando ainda a lentidão com que os apoios anunciados pelo Governo está a chegar às empresas.

André Teives cita casos de outras companhias concorrentes – como a Iberia – que, diz, já tem disponíveis mil milhões de euros.

A TAP “apenas tem uma tutela que só estuda, analisa e nada concretiza. V/Exa. – e seu Governo – mandatou a ANAC (regulador da aviação) para receber e compilar as necessidades e recomendações das empresas do setor. Desde então, já passaram semanas, NADA! Bem sabemos que em Matemática o zero também é número, em política tutelar do Grupo TAP,  é só, zero! Todos sabemos que zeros à esquerda não valem nada!”.

Numa longa missiva em que recorda os principais episódios da história da TAP, as decisões dos governos, as dificuldades económicas e financeiras da empresa ultrapassadas sem dinheiro público e a privatização, André Teives sublinha que a sua tomada de posição “não visa apoiar a atual gestão executiva da TAP — que (tal como eu, enquanto ser humano imperfeito) também cometeu e comete erros, mas só não os comete, quem nada faz”. Pelo contrário, ressalva o sindicalista, “visa apenas demonstrar com factos e números a verdade dos últimos 26 anos no que concerne ao Grupo TAP”.

Já esta segunda-feira, também a comissão de trabalhadores da TAP escreveu uma carta aberta ao primeiro-ministro onde reitera o pedido ao Governo para que “assuma as suas responsabilidades e o controlo da empresa, para prevenir o agravamento irreversível dos danos que a gestão privada está a infligir aos seus ativos”.

Elencando os pedidos de apoio já efetuados pela gestão da empresa, que argumenta, somados ao passivo elevam as responsabilidades imputáveis ao Estado português na TAP a mais de 1600 milhões de euros, a Comissão de Trabalhadores defende que só com o “controlo e gestão pública deverá assegurar a manutenção dos postos de trabalho, assim como a reintegração dos trabalhadores contratados, entretanto dispensados sob o pretexto da paralisação forçada da empresa”.

Nessa medida, “concordamos e defendemos que, e mais uma vez parafraseando o Sr. Ministro Pedro Nuno Santos, ‘Se é o povo português que paga, é bom que seja o povo português a mandar’”, naturalmente.