A ministra da Saúde, Marta Temido, diz que até a Covid-19 “ser erradicada, até encontrarmos uma cura ou uma vacina, não podemos imaginar o regresso à normalidade“. Numa entrevista ao podcast “Ao Ponto”, do jornal brasileiro Globo, Marta Temido falou da experiência portuguesa de começar o desconfinamento após quase dois meses de isolamento social e avisou que a estratégia de regresso à normalidade possível “pode ter avanços e também pode ter recuos em função de necessidades”. E garantiu: “Não podemos dizer que estamos livres que isso aconteça“.

“Neste momento, tenho alguma preocupação que com o cansaço acumulado do confinamento, dessa situação económica que para alguns ficou bastante complicado, possa haver um menor cumprimento das regras de distanciamento“, reconheceu Marta Temido na entrevista. “Acho que se tem de ter muita atenção, muito cuidado, ir muito nessa mensagem de que o sucesso da luta contra esta pandemia não depende só do Ministério da Saúde, do Governo, depende de cada um de nós.”

A ministra admitiu que Portugal “beneficiou de ter registado o primeiro caso de Covid-19 numa fase em que outros países europeus já estavam a lidar com a situação“, mas acrescentou que o modelo universal do Serviço Nacional de Saúde, o empenho dos profissionais de saúde e o clima de paz política contribuíram para que Portugal tenha sido um caso de sucesso na luta contra a pandemia — que espera que se repita agora no período do desconfinamento.

“Vamos ter de ir adaptando as nossas estratégias àquilo que são os resultados epidemiológicos. Temos de ter as pessoas preparadas para uma estratégia que pode ter avanços e também pode ter recuos em função de necessidades. Não podemos dizer que estamos livres que isso aconteça. Aquilo que vamos procurar fazer é ter boas práticas, regras, por proposta dos vários setores, da indústria, do comércio, para o alívio de medidas em cada uma dessas áreas. Vamos fazer os alívios por medidas sucessivas, de 15 em 15 dias. Para já, temos um plano até ao final de maio, mas vamos ter de ir acompanhando“, detalhou Marta Temido.

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Questionada sobre como vê o futuro daqui para a frente, a ministra da Saúde foi cautelosa. “Essa é que é a pergunta que tem uma resposta mais difícil. Nós não podemos, para já, até a doença ser erradicada, até encontrarmos uma cura ou uma vacina, não podemos imaginar o regresso à normalidade. Vamos ter de nos habituar a viver com a doença, até para ir aumentado a imunidade de grupo, mas não dá para voltar à vida como ela era.”

Testes são “só uma fotografia do que pode ser o contágio”

Marta Temido alertou ainda para a importância de não “sobrevalorizar” o papel dos testes de diagnóstico. Questionada sobre o problema da subnotificação e da capacidade de testagem, que tem afligido o Brasil, a ministra explicou que “a estratégia de testes que Portugal seguiu é aquela que é recomendada pela OMS. Tentar testar o mais possível“.

“Além da aplicação de testes aos casos suspeitos de doença e aos contactos dos casos suspeitos, nós procurámos testar as pessoas que estão em determinados sítios onde há um risco especial de contrair a doença. Desde logo, profissionais de saúde, depois tivemos a mesma estratégia em estruturas residenciais para pessoas idosas, depois a mesma estratégia para profissionais de determinadas áreas, por exemplo guardas prisionais. Agora vamos tentar fazer o mesmo para a reabertura dos jardins de infância, onde estão as crianças mais pequenas”, explicou Marta Temido.

“Sabemos que os testes são só uma fotografia daquilo que pode ser o contágio, a infeção num determinado momento. Sabemos testar é importante, mas não podemos esquecer que o teste é apenas um instrumento de diagnóstico. Não se pode sobrevalorizar o poder do teste. É muito importante que o teste seja acompanhado por essas outras medidas de prevenção. Sem isso, não serve de nada”, acrescentou a ministra.