Com restaurantes fechados e restrições ao comércio e circulação de pessoas devido ao estado de emergência, os angolanos voltaram-se para as entregas ao domicílio, fazendo disparar o negócio das aplicações que cresceu, nalguns casos, 500%

É o caso da Tupuca, uma aplicação de encomendas online de empreendedores angolanos, que cresceu “basicamente 500%” desde o mês passado, segundo o CEO Wilson Ganga.

Também Pedro Beirão, CEO da Appy Saúde, uma plataforma digital para serviços de saúde, viu o número de pedidos duplicar neste período, com um pico em março, no início do estado de emergência devido ao “pânico” das pessoas e à escassez repentina de produtos farmacêuticos.

Em declarações à Lusa, o empresário Wilson Ganga adiantou que, além da faturação também o número de parceiros aumentou substancialmente, passando de 200 para os atuais 250, havendo já mais de 500 em lista de espera.

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A plataforma, inicialmente mais vocacionada para a restauração, viu nos últimos tempos o negócio alargar-se aos supermercados, bebidas, farmácias e, mais recentemente, à moda.

Embora as refeições continuem a ser o prato forte da Tupuca, concentrando cerca de 70% dos pedidos, intensificou-se também a procura por outro tipo de produtos tendo algumas cadeias de híper e supermercados aderido recentemente à plataforma.

“A procura dos clientes aumentou muito”, sublinhou Wilson Ganga, acrescentando que foram contratados mais 75 “tupuquinhas” para fazer as entregas.

Para atender à procura, os empresários adaptaram-se e direcionaram a frota da empresa mais recente do grupo, a T’Leva, uma plataforma de transporte de pessoas e bens lançada em fevereiro de 2019, para as entregas.

“Como a procura da T’Leva baixou, sobretudo aos fins de semana, direcionámos a frota do T’Leva para o Tupuca e os motoristas do T’Leva que estão a fazer os dois serviços, podem fazer entregas ou serviços de táxi”, detalhou.

A frota atinge já os 300 carros divididos pelas duas plataformas, sobretudo elétricos, além de 90 motas.

Wilson Ganga, acredita que passada a pandemia, que levou ao surgimento de novas aplicações na área da restauração neste período, a evolução da empresa vai continuar a ser positiva.

“O negócio está aí, os empresários querem expandir as vendas e começaram a juntar-se à aplicação e as pessoas entretanto também se habituaram a usar pela comodidade”, destaca, considerando que Angola está a entrar num nível de “e-commerce” comparável ao de outras economias.

Opinião concordante tem o fundador da Appy Saúde, Pedro Beirão, que relata que, no pico da procura, quando “as pessoas ficaram em quarentena” a procura de produtos farmacêuticos disparou, registando-se mesmo alguma escassez.

A Appy Saúde verificou um grande aumento na procura de máscaras – o produto “top”, segundo Pedro Beirão – luvas, álcool gel e antibióticos, bem como cloroquina, um medicamento usado no tratamento e profilaxia da malária, que tem também sido usado para tratar a Covid-19.

Pedro Beirão diz que a Appy se conseguiu adaptar rapidamente ao crescimento da procura, por ter um modelo digital “escalável”, pelo que apesar da procura duplicar, não teve de aumentar o número de trabalhadores na mesma proporção, embora tenha reforçado a área de suporte.

Para garantir a entrega atempada das encomendas, tendo em conta que estava circunscrita ao centro da cidade e foi alargada a áreas da periferia, associaram-se a parceiros de transporte

Pedro Beirão realçou ainda que a pandemia “fez acelerar a inovação”, com a Appy a preparar a introdução de novas ferramentas e funcionalidades, incluindo a possibilidade de adicionar receitas médicas e seguros

Com mais de 40 farmácias associadas e cerca de 20 prestadores de serviços de saúde online (com previsão de 40 em breve) e plataforma disponível em Luanda, Benguela e no Huambo, a Appy vai continuar a expandir-se, impulsionada pelas novas modalidades de pagamentos ?online’ que estão também a ser introduzidas em Angola, acredita o empreendedor.

“As pessoas não tinham experiência e viram que o serviço, que é grátis, dá resposta, podendo encomendar os produtos e levantar nas farmácias ou receber em casa. Isto facilita a vida e a partir daí, as pessoas habituam-se. Penso que a tendência é continuar a ter um crescimento paulatino, algo que será generalizado a todos os serviços de entregas “, prevê Pedro Beirão.