O Presidente do Brasil acusou, na terça-feira, o ex-ministro da Justiça de mentir no depoimento que prestou à polícia e de ter cometido um “crime federal”.

“Eu só quero rebater uma questão do senhor Sergio Moro. Primeiro, em nenhum momento eu pedi relatório de inquéritos. Isso é mentira deslavada por parte dele, mentira deslavada. Tenho até vergonha de falar isso daqui”, afirmou Jair Bolsonaro, ao chegar ao Palácio da Alvorada, residência oficial em Brasília.

Em causa está um depoimento prestado por Moro no sábado, em que reafirmou que o chefe de Estado brasileiro pediu acesso a relatórios secretos da Polícia Federal, na presença de outros governantes, durante uma reunião do conselho de ministros.

Ele [Moro] disse que eu pedi [relatórios secretos] numa reunião de ministros. Uma reunião de ministros. Ia pedir algo ilegal? Não peço ilegal nem individualmente, que dirá em forma coletiva”, afirmou Bolsonaro.

No sábado, Sergio Moro começou a testemunhar contra Jair Bolsonaro, na Polícia Federal de Curitiba, cidade onde liderou, como magistrado, a operação anticorrupção Lava Jato e condenou vários empresários e políticos, incluindo o antigo Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

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Em 24 de abril, o ex-ministro da Justiça pediu a demissão do cargo, acusando Bolsonaro de estar a fazer “interferência política na Polícia Federal”, na sequência da demissão do ex-chefe daquela instituição Maurício Valeixo. Ainda no mesmo dia, Sergio Moro mostrou à TV Globo uma alegada troca de mensagens com Jair Bolsonaro, na qual o Presidente brasileiro admitia que queria uma mudança no comando da Polícia Federal, justificando a necessidade da medida com uma investigação em curso contra deputados aliados do chefe de Estado.

De acordo com a alegada troca de mensagens, o Presidente terá enviado ao ex-juiz uma hiperligação de uma reportagem do “site” O Antagonista, na qual é referido que a Polícia Federal suspeitava do envolvimento de “dez a 12 deputados ‘bolsonaristas'” com um grupo de disseminação de notícias falsas nas redes sociais ligado ao vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do chefe de Estado.

A acompanhar a hiperligação, Bolsonaro escreveu: “Mais um motivo para a troca”, numa referência à vontade de mudar a direção da Polícia Federal, cuja liderança estava a cargo de Maurício Valeixo, exonerado no final de abril. Nessa troca de mensagens, Moro argumentou que a investigação em andamento não tinha sido movida por Mauricio Valeixo, acrescentando que esse inquérito estava a ser conduzido pelo juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Bolsonaro acusou Moro de ter cometido um “crime federal” ao mostrar as mensagens à Globo.

Ele [Moro] tinha relatórios parciais de coisas que eu passava para ele. E foi entregar isso para a Globo? Isso é crime federal, talvez incurso na lei de Segurança Nacional. Pode ver que eu confiava nele. Tanto que passava extratos de informações com chefes de Estado e com inteligências de fora do Brasil”, observou o Presidente.

Junto ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro exibiu aos jornalistas presentes no local o ecrã do telemóvel, com uma alegada troca de mensagens com Sergio Moro, na qual os dois falavam sobre o comando nacional da Polícia Federal.

Bolsonaro confirmou ter enviado as mensagens Moro, mas mostrou que já havia encaminhado anteriormente para o ex-ministro a reportagem do ‘site’ O Antagonista. Nesse primeiro envio, conforme as mensagens exibidas por Bolsonaro, Moro respondeu: “Isso é fofoca. Tem um DPF [delegado da Polícia Federal] atuando por requisição [do Supremo] no inquérito das ‘fake news’ e que foi requisitado pelo juiz Alexandre [de Moraes]”.

Ainda no depoimento prestado à justiça, Sergio Moro denunciou que Jair Bolsonaro queria controlar a Polícia Federal do Rio de Janeiro através da indicação de um novo superintendente para aquele departamento. Questionado por jornalistas sobre essa acusação, Bolsonaro respondeu: “O Rio de Janeiro é o meu estado”