O “aviso” já tinha sido deixado por Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, num artigo de opinião publicado nos jornais desportivos desta segunda-feira. E não tinha sido a primeira vez que a questão se colocava, nomeadamente do terceiro escalão para baixo: a sustentabilidade dos clubes a curto a médio prazo. Nos sinais de crise, o órgão viu uma oportunidade. E vai haver uma profunda revolução nos modelos competitivos.

O “amplo plano de emergência e reestruturação do terceiro escalão do futebol sénior masculino português, resultado da reflexão dos últimos seis meses com as associações e demais sócios FPF”, foi anunciado esta quarta-feira e com cinco grandes objetivos: “assegurar o maior número possível de projetos equilibrados, aumentar a competitividade, melhorar a qualidade de jogo, aproximar os adeptos do futebol local e criar espaços de desenvolvimento para o jovem jogador português na transição dos Sub-19 para os seniores e garantir um formato adequado ao que se prevê venha a ser a próxima época, no quadro da pandemia Covid-19″.

Ou seja, e em resumo, o impacto financeiro que se prevê nos próximos meses acabou por cruzar com uma ideia que há muito era defendida para os escalões não profissionais, e que passava pela necessidade de reformular as provas tendo em vista uma melhor proximidade geográfica com uma maior competitividade desportiva. A isso vão juntar-se ainda dois pontos importantes: a taxa de jogo vai ser reduzida e o valor de inscrição de jogadores também vai ser reajustado, num pacote de medidas enquadradas na mesma ideia supracitada.

Assim, e a partir da época de 2021/22 (ao longo de três temporadas), será criada uma nova prova, designada de III Liga, onde irá ser discutido o acesso aos lugares de promoção à Segunda Liga por 24 equipas, ao passo que o Campeonato de Portugal, que ficará como um quarto escalão do futebol nacional antes dos distritais, terá 60 equipas. Outro dado importante: todos os jogadores profissionais que estejam nesses clubes que participem na III Liga terão como valor de remuneração base o salário mínimo nacional, num acordo com o Sindicato.

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Para haver esse apuramento, o Campeonato de Portugal contará em 2020/21 com um total de 96 equipas: as duas que desceram da Segunda Liga (Cova da Piedade e Casa Pia), as 70 que permanecem, as 20 que sobrem das provas regionais e ainda mais quatro novas equipas B. O quadro competitivo será o seguinte:

1.ª fase

  • Oito séries com 12 equipas cada: os oito primeiros classificados passam à segunda fase de disputa da subida à Segunda Liga; as equipas do segundo ao quinto lugar por série passam à segunda fase de disputa da presença na III Liga; os quatro últimos classificados por série descem aos distritais.

2.ª fase

  • Duas séries de quatro equipas, com o primeiro classificado de cada a subir à Segunda Liga e as restantes a passarem para a III Liga na temporada seguinte; oito séries de oito equipas, com os primeiros dois de cada a passarem para a III Liga e as restantes a permanecerem no Campeonato de Portugal.

Também no futebol feminino haverá mudanças, também explicadas pela Federação em comunicado. “Apesar do desenvolvimento dos últimos anos, continuam a existir em Portugal pouco mais de 11 mil jogadoras de futebol e futsal. Na época passada, a FPF iniciou um programa de apoio aos clubes da Liga BPI. Este programa apoia 12 clubes e visa contribuir para a sustentação e crescimento através do incentivo a melhores recursos humanos nos clubes com equipas femininas”, começa por explicar o órgão.

“Numa fase particularmente crítica em que está em risco o que foi conseguido no setor nos últimos cinco anos, seria importante que a FPF conseguisse auxiliar mais clubes como forma de manter o número de praticantes e a competitividade da prova e das seleções nacionais”, acrescenta, antes de explicar os traços gerais do que irá mudar no primeiro escalão do futebol feminino nacional, nomeadamente a criação de duas séries.

1.ª fase

  • Em vez de um só Campeonato a 12 equipas, como existe atualmente, passarão a existir duas séries de dez equipas em 2020/21, mais oito equipas do que agora (12 mais as oito vencedoras de série da II Divisão).

2.ª fase

  • As quatro primeiras de cada série apuram-se para a fase de apuramento de campeão e as restantes seis de cada série jogarão a fase de manutenção, descendo um total de seis equipas para que a temporada de 2021/22 passe a ter apenas 16 no principal escalão (ou seja, sobem só duas).