Era o quinto dia do mês de maio em 1110 e, tal como é o fado dos astros desde há 4,5 mil milhões de anos, a Lua apareceu no céu para presidir a noite. Seria como outra qualquer não fosse o estranho fenómeno relatado na Crónica de Peterborough: a Lua simplesmente desapareceu. As estrelas continuaram a brilhar, nenhuma nuvem poluiu a vista para o firmamento. Mas o satélite natural da Terra, nem vê-lo.

Segundo o texto daquele histórico manuscrito em inglês antigo sobre a história dos anglo-saxões, após a Ler ter aparecido no céu, “pouco a pouco, a luz diminuiu de modo que, tão depressa como chegou a noite, extinguiu-se tão completamente que não se viu nem a luz, nem a orbe, nem nada em absoluto”.

Depois disso, o dia nasceu, desenvolveu-se naturalmente e, quando a noite regressou, trouxe de volta a Lua que se havia escondido 24 horas antes. Passaram-se nove séculos, o mundo recebeu génios que descobriram luas noutros planetas, compreenderam as mais elegantes regras físicas do universo, levaram a humanidade a pisar outros astros. Mas nenhum deles alguma vez descreveu com precisão como pode ter a Lua desaparecido naquele 5 de maio.

Até agora. Num estudo publicado na Scientific Reports e noticiado pelo espanhol La Vanguardia, um grupo de cientistas da Universidade de Genebra sugeriu que a Lua tinha desaparecido por causa de uma erupção vulcânica que havia acontecido dois anos antes, em 1108. Afinal, o segredo para o mistério este durante todo este tempo enterrado no gelo na Gronelândia: a Lua tinha sido raptada do olhar dos terráqueos por causa de uma das maiores libertações de sulfato do último milénio.

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Segundo os cientistas, os núcleos de gelo analisados na Gronelândia mostravam que tinha havido uma grande deposição de sulfato, provavelmente uma das maiores do milénio passado. “Durante muito tempo acreditava-se que esses depósitos fossem o produto da erupção do vulcão islandês Hekla em 1104”, pode ler-se no relatório. Mas, afinal, “a avaliação dos núcleos de gelo aponta para várias erupções, muito próximas no tempo, entre 1108 e 1110” que provocaram “um véu de poeira na Europa em maio de 1110”.

A teoria destes investigadores de Genebra é que essas erupções não tenham brotado do vulcão Hekla. Devem ter acontecido no monte Asama, um vulcão ainda ativo no centro de Honshu, a principal ilha do Japão, cuja maior erupção vulcânica no Holoceno — a época em que vivemos — terá ocorrido em agosto de 1108. É um dado “credivelmente documentado por um observador japonês” e que é “um contribuidor plausível para o alto teor de sulfato na Gronelândia”.

O desaparecimento temporário da Lua não terá sido sequer a consequência mais grave destas erupções vulcânicas. Nessa altura, a Europa Ocidental ficou mergulhada na fome e França também registou níveis anormais de chuva. Até os registos dos eclipses lunares daquele século, que falam de luas vermelhas extremamente escuras, coincidem com a paisagem que seria criada por uma atmosfera poluída pelos gases e poeiras emitidos por aquele vulcão.

Noventa e uma décadas mais tarde, a Lua continua por cá. E até promete dar um pequeno espetáculo esta noite e também na quinta-feira, com a última “Super Lua” do ano. De acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa, a fase de Lua Cheia vai coincidir com o perigeu — ponto da órbita em que se encontra mais próxima da Terra. E vai estar a 359.653,767 quilómetros de nós.

Com a Super Lua, ela vai parecer-lhe 14% maior e 30% mais brilhante do que quando acontece no apogeu, isto é, no ponto da órbita mais afastado da Terra. No entanto, a melhor ocasião para a é no momento do seu nascimento, quando ainda está próxima ao horizonte, porque “parecerá ainda maior com um aumento extra de cerca de 5%”, descreve o Observatório.