Uma equipa de oito portugueses da KPMG Portugal está por detrás da “COVID Care App”, a aplicação governamental lançada na segunda-feira no cantão suíço da Basileia. Esta aplicação para smartphones permite às autoridades acompanharem os casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus e já está preparada para incorporar tecnologia de monitorização caso as entidades estatais optem assim. Ao Observador, Rui Gonçalves, sócio na consultora, conta que foi um trabalho contra o tempo que envolveu trabalhar “24 horas sob 24 horas”.

“O desafio era muito a rapidez”, diz Rui Gonçalves que, com Bruno Martins, também sócio na KPMG Portugal, foi responsável por este projeto e parte desta equipa. Ao todo, foram necessárias quatro semanas desde que estes oito portugueses da rede de consultores internacional começaram a construir o projeto.

O pedido para esta app chegou à equipa através dos escritórios da KPMG na Suíça “numa segunda-feira” e, “na quinta-feira seguinte”, já estavam a apresentar a proposta que viria a ser escolhida. No dia a seguir, começavam a construí-la em teletrabalho.

Esta equipa já tem experiência na construção de outras aplicações tendo sido, inclusive, premiada por isso em 2019 pelo banco Santander. Para a construção deste software, a consultora explica que utilizou a tecnologia da plataforma portuguesa Outsystems para construir rapidamente a app — a Outsystems tornou-se, em 2018, o segundo unicórnio com ADN português. “Somos parceiros  há 10 anos”, refere Rui Gonçalves. Tiveram de ser feitos “ajustamentos técnicos” e conseguiu-se construir um sistema “poderoso” para ser utilizado pelas autoridades de saúde e polícia deste cantão suíço .

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“A KPMG Portugal orgulha-se de ter sido escolhida para implementar este projeto, desde logo por ser um contributo significativo para o controlo da pandemia. Mas também por representar mais um reconhecimento da qualidade da tecnologia que os nossos profissionais desenvolvem, em Portugal e no estrangeiro”, afirma Nasser Sattar, head of advisory da KPMG Portugal,

Como o número de casos na Suíça continuava a subir, foi preciso agir e este responsável afirma que nem sequer “houve muito tempo” para olhar para o que estava a ser desenvolvido noutros países. Agora, esta solução está a ser vista como base para outros países do “médio oriente até às Américas” para possíveis implementações.

Rui Gonçalves conta também que “os requisitos [pedidos pelas autoridades] eram muito concretos”. Para acelerar o processo, utilizaram “todos os mecanismos de mobile [tecnologias móveis] que já tinham utilizado para serviços para bancos, o que permitiu, diz o responsável, ter já uma base robusta de cibersegurança no tratamento de dados pessoais.

Com a COVID Care App da KPMG, as autoridades de saúde suíças pretendem aumentar a proximidade com os doentes de COVID-19, ser mais eficientes na definição das medidas a adoptar para cada situação e ter à disposição melhor informação sobre a população infetada”, diz a KPMG.

Esta app, na prática, passou a “automatizar” as ações de acompanhamento diário que as autoridades fazem às pessoas que estão infetadas neste cantão com cerca de 200 mil habitantes e que tem mais de 900 pessoas com Covid-19. Através deste software, quem estiver infetado diz diariamente às autoridades o seu estado de saúde e pode falar com médicos e psicólogos. Além disso, é também possível acompanhar notícias oficiais do governo e dados estatísticos em tempo real sobre a população monitorizada.

“O tema da cibersegurança depende da habilidade do hacker”

Relativamente a questões de privacidade e tratamento de pessoais, Rui Gonçalves explica que, atualmente, esta app não utiliza tecnologias de monitorização como as que estão a ser discutidas a nível europeu. “A solução está numa cloud [servidor externo] do governo da suíça e acompanha todos os procedimentos” de proteção de dados, diz este responsável do projeto. Em termos de segurança e sobre a construção da app, a KPMG refere também que este serviço utiliza isso a tecnologia da Microsoft Azure Cloud, que está interligada às ferramentas Outsystems.

Apesar de as autoridades locais poderem atualizar dados da plataforma para acompanharem pessoas infetadas, não têm acesso a toda a informação, refere também o sócio da KPMG Portugal. “Neste caso concreto, onde reside esta informação é onde reside toda a informação do registo eletrónico [de pessoas infetadas] na Basileia”, refere também. Ou seja, é uma solução semelhante à do tratamento atual dos dados em Portugal sobre doentes infetados. “O tema da cibersegurança depende da habilidade do hacker”, diz ainda Rui Gonçalves sobre a proteção que está a ser dada aos dados.

A COVID Care App é um grande passo em direção a um suporte amigável para pessoas isoladas e em quarentena. E é uma ajuda importante e de apoio para o período seguinte, no qual temos que nos acostumar a conviver com o novo coronavírus na nossa vida quotidiana”, diz Lukas Engelberger, diretor de Saúde da Basileia.

Numa altura em que se discute a implementação massiva deste tipo de apps a nível europeu, esta solução para a suíça está já preparada caso os responsáveis suíços optem por uma abordagem de contacttracing (rastreio contínuo de pessoas para avisos em tempo real de contacto), diz a KPMG Portugal. Rui Gonçalves revela que estas possibilidades com o governo suíço estão a ser  “estudadas” caso se opte por isto.

Tivemos o cuidado de desenvolver uma plataforma bastante aberta e flexível”, diz Rui Gonçalves.

Entre as opções futuras pode ser escolhido algo como um passaporte de passaporte de imunidade ou até a identificação de biométrica, que utiliza reconhecimento facial, para o acompanhamento da população. Contudo, para já, os responsáveis do projeto afirmam que esta app é eficaz para o que foi pedido pelas autoridades: dar acompanhamento e acompanhar pessoas infetadas, não estando estas soluções ainda a ser implementadas.

Tudo o que já se sabe sobre as apps portuguesas para rastrear contactos

Seja uma abordagem centralizada (em que os dados ficam todos num servidor central), defendida pela Comissão Europeia, ou descentralizada (em que ficam em cada dispositivo), defendida pela Apple e pela Google, são necessárias duas coisas, diz Rui Gonçalves. Primeiro, “que exista legislação para isso”. Segundo, que várias pessoas depois a instalam para ser eficaz. “O tema do tracing é mais complexo em termos analítico porque para ser significativo tem de haver um acesso à aplicação” maior, o que com instalação voluntária é mais difícil de garantir, explica.

A COVID Care App, está disponível para iOS e para Android.