No início do mês, quando partiu de Lisboa para o Rio de Janeiro após ter passado as últimas semanas em Portugal, Jorge Jesus mostrava-se mentalizado para a situação da pandemia no Brasil. E falou nisso, de forma pragmática. “Enquanto não houver vacina temos de saber conviver com o vírus. Não há volta a dar, quem pensar o contrário se calhar ainda tem de ficar um ano em casa”, disse, deixando uma salvaguarda: “Os jogadores são trabalhadores e as equipas dão condições aos seus profissionais de garantia e de trabalho que muitas empresas não conseguem dar. Os jogadores vão ser todos testados, os familiares deles também, eles andam em carros privados. Tomara eu que todos os trabalhadores de todas as empresas pudessem fazer isso”.

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O treinador não colocou o futebol nem fora nem dentro da “bolha” em que o mundo vive mas fez essa ressalva. “Se houver alguma oposição às equipas de futebol, estou a falar em treinar, então todas as áreas têm de parar. Ninguém tem as condições que os profissionais de futebol têm”, referiu. Entre várias justificações para essa ideia, Jesus tinha sobretudo uma: a capacidade de testar, testar, testar, como a OMS tantas vezes apregoou, que o Flamengo criou. E os resultados conhecidos esta semana mostram a importância desse protocolo.

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Através de um comunicado oficial, o clube anunciou que fez um total de 293 testes entre 30 de abril e 3 de maio a todos os colaboradores (jogadores, técnicos, dirigentes e membros do staff) e a familiares próximos dos atletas. Desses, houve 38 positivos, todos assintomáticos, e mais 11 pessoas que já tiveram o vírus antes, também sem qualquer tipo de sintomas, após serem encontrados anticorpos IGG positivos.

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“Para os que testaram positivo, as providências serão isolamento e quarentena, acompanhamento diário com questionários sobre sinais vitais e evolução, além de novas dosagens seriadas dos pacientes e contactantes até a resolução dos casos (…) Os atletas que tiveram familiares ou funcionários com testes positivos entrarão em quarentena, com acompanhamento diário com questionários sobre sinais da doença e novas testagens. Em caso de novos testes negativos, serão integrados ao trabalho em prazo seguro ou, em caso de testagem positiva, seguirão, a partir de então, o padrão de conduta dos que já testaram positivo”, explica o Flamengo.

Dos 38 casos positivos que existem atualmente, três são jogadores da equipa principal (outros dois já tiveram), 25 são familiares ou pessoas que trabalham em residências de funcionários, seis são funcionários de apoio do clube e outros dois são funcionários de empresas que prestam serviços regulares ao Flamengo.

De recordar que o primeiro caso no Flamengo tinha sido o do vice-presidente Maurício Gomes de Mattos, que chegou a estar internado numa unidade hospitalar particular em Brasília (depois de ter passado por Espanha, onde esteve com responsáveis do Real Madrid e do Barcelona). Jorge Jesus ainda teve um primeiro teste que resultou num falso positivo mas os restantes testes feitos despistaram a infeção. No início da semana o clube esteve de luto pela morte de Jorge Luiz Domingos, mais conhecido por Jorginho, massagista do Flamengo durante 40 anos (que esteve também na seleção brasileira) que morreu após duas semanas internado num hospital na Ilha do Governador depois de ter sido diagnosticado com Covid-19.