Aos 78 anos, o cardeal australiano volta a estar nas bocas do mundo e novamente por causa de crimes sexuais dentro da Igreja Católica. Depois de ter visto a sua sentença anulada no início do mês de abril, um novo relatório da comissão que investigou a igreja australiana revelou que George Pell “estava consciente” de abusos sexuais a menores cometidos por clérigos na Austrália, ainda nos anos 70.

As conclusões do inquérito levado a cabo pela Royal Commission foram conhecidas esta quinta-feira. Embora o relatório tenha sido entregue em 2017, a informação relativa ao antigo tesoureiro do Vaticano, cerca de 100 páginas, foi mantida em segredo, de forma a não condicionar a decisão no julgamento de Pell, cuja sentença foi anulada.

As conclusões da comissão remontam ao período em que o sacerdote estava alocado à diocese de Ballarat, a sua terra natal, no estado australiano de Victoria. Terá sido aí, por volta de 1973, que encobriu Gerald Ridsdale, o pároco entretanto condenado pelo abuso sexual de rapazes em acampamentos, durante a noite.

George Pell © Getty Images

“Também estamos convencidos de que em 1973, o cardeal Pell não só estava consciente do abuso sexual de crianças por parte o clérigo, como ainda tomou medidas para evitar comentários sobre o tema”, concluiu a mesma comissão, citada pela Associated Press. “Rejeitamos que o bispo Pell tenha agido, intencionalmente ou de outra forma, enganado”, acrescentou.

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Conclusões que já foram negadas pelo cardeal, que se revelou surpreendido com relatório. “Estas consideração não estão sustentadas por qualquer evidência”, defendeu.

A comissão identificou ainda a transferência de Ridsdale para outra paróquia, em 1977, como momento chave. Nessa altura, considerou “provável que Pell soubesse dos crimes sexuais de Ridsdale”. O cardeal chegou mesmo a apoiar o arguido na sua primeira ida a tribunal, ainda em 1993.

Em 1989, terá ainda ignorado queixas contra um padre de Sunbury e Doveton, também no estado de Victoria. Peter Searson, o pároco em questão, foi acusado de abusar sexualmente de crianças e de violar uma mulher.

George Pell passou o último ano na prisão. Condenado em 2018 por abuso sexual de dois menores, nos anos 90, viu a sentença anulada pelo Supremo Tribunal da Austrália em abril deste ano. Na altura, o plenário de juízes considerou haver “uma possibilidade significativa de uma pessoa inocente ter sido condenada porque a prova não estabeleceu culpa com o nível de evidência exigido”.