O timing não foi dos mais confortáveis. Experimente calçar os sapatos de quem acabava de lançar um novo negócio em março, o mês em que o país e o mundo se refugiaram em casa, com prioridades bem maiores do que pensar em calçado novo. Bom, nada como afinar a agulha do pedido: o que interessa para este caso é experimentar vestir uma destas sweatshirts. Apesar do cenário de incerteza com que a Covid-19 nos vestiu a todos, a Mihso (mi-zu) foi mesmo por diante, apostando num trio de peças que, inadvertidamente, servem esta fase de confinamento como uma luva. “Acabei por explorar o aspeto confortável e colorido das peças, tão importantes neste período de confinamento, mais do que tinha planeado fazer”, explica Mafalda Semedo, que se viu obrigada a repensar vários aspetos com este novo projeto de vida.

Há cerca de dois meses estava em plena fase de divulgação da marca, missão que continua a seguir, utilizando sobretudo as plataformas digitais ao seu alcance, uma modalidade que é cada vez mais regra, e que deixou em standby os planos de dar a conhecer a marca fisicamente, como a presença em mercados. “Mas creio que este confinamento doméstico será uma oportunidade excelente para o crescimento e confiança das pessoas no comércio online. Isso é sem dúvida uma oportunidade para marcas como a minha, que nasceram para serem comercializadas essencialmente por essa via”.

Sem costura no ombro, cós mais largo (loose fit) e colarinho redondo: três atributos das sweats. © Mihso

E quando falamos de um produto tão descontraído como este, não é difícil imaginar que o lado prático e confortável são dois eixos fundamentais da proposta de valor da marca, acentuados por esta fase inesperada, mas que depois da tempestade “continuam a ser totalmente válidos, porque todas nós, no nosso dia a dia, queremos ter peças de roupa práticas e fáceis de conjugar”, confia Mafalda. “Estas sweatshirts são peças que fazem um look. É aquela peça de roupa ótima para o fim de semana, quando queremos conforto e estar bem, sem perder muito tempo a pensar no que vestir”, acrescenta, tendo arregaçado as mangas para responder a uma lacuna que identificava no segmento. “A ideia surgiu pelo facto de não conseguir encontrar este tipo de sweatshirts, com padrões, para mim… para mulheres. Encontrava muitas sweatshirts com padrões para os meus filhos, mas quando procurava para mim algo do género, só encontrava versões lisas, ou com estampagens muito localizadas ou logótipos. Nunca este tipo de padrões all-over“.

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Outro dos aspetos diferenciadores são os padrões originais e coloridos, com a primeira coleção a valer-se do Tutti-Frutti inspirado nas viagens da criadora e nos cheiros e sabores de papaias, pitaias ou maracujás; da geometria do famoso jogo do Tangram; e ainda da força dos braços de um leque de nadadoras que trazem boas memórias. “Era fundamental para mim ter um padrão relacionado com a água, com a praia e com os banhos de mar, que fazem parte da minha vida e das minhas memórias, ligadas à praia da Costa Nova”.

Das aulas de matemática para as camisolas da Mihso, eis a nova vida do Tangram © Mihso

Por agora, a marca está a ser lançada apenas com um modelo, com manga raglan, com os três padrões originais desenhados por ilustradores nacionais, tudo para acentuar o lado especial de cada acessório, pensado, desenhado e produzido em Portugal, com felpas em 100% de algodão e a preocupação de minimizar impactos e desperdícios trabalhando com lotes muito pequenos, que são produzidos apenas uma vez. “Uma das características da Mihso é ter poucas unidades de cada padrão, para que seja possível que cada pessoa tenha uma peça praticamente única e também para que ciclicamente possam ser lançados novos padrões e novos modelos”. Sempre modelos femininos de sweatshirts, esclarece, se bem que este não deverá ser o único género a deixar-se conquistar pelos modelos, acrescentamos nós.

Um ano antes e um ano mais tarde

Vale a pena recuar no tempo para resumir os primeiros passos, já que antes de chegar a uma montra online privilegiada como o Instagram houve muito trabalho pelo caminho, partindo da vontade de se aventurar numa marca e num negócio próprios numa área que sempre a fascinou, a moda. “Todo o conhecimento de criação e gestão de uma marca eu já o tinha, uma vez que trabalhei cerca de 13 anos em Marketing, em empresas nacionais e multinacionais, a gerir marcas conhecidas por todos nós, mas tinha noção de que me faltava conhecimento do sector e do produto em si”, recorda Mafalda.

Quando a decisão de criar as sweatshirts se tornou mais estruturada, começou pelo bê-á-bá: ela própria se inscreveu em aulas de modelagem e costura para aprender os meandros da confeção de raiz e iniciar-se no processo de desenvolvimento. Contas feitas, entre a ideia e a concretização definitiva das peças demorou um ano. A marca era oficialmente lançada em fevereiro deste ano, com a criação da loja online, e no início de março a Mihso registava assim a sua primeira venda.

Os cheiros e sabores trazidos das viagens pelo mundo refletem-se no estampado Tutti Frutti © Mihso

“Para ser sincera, foi de facto um grande desafio. Começar a pesquisar, falar com as empresas, ir a feiras do setor, para poder começar e a passar de uns contactos para outros, até encontrar os parceiros certos. A principal dificuldade prendeu-se sempre com o facto de eu ser uma cliente com volumes pequenos e pretender ter um produto customizado, muito único, com características muito específicas”, admite Mafalda, notando ao mesmo tempo como estas mesmas características granjearam o carinho das partes envolvidas ao longo do trajeto. “Quando finalmente consegui criar a minha rede de parceiros, tudo andou sobre rodas e foi uma sensação maravilhosa quando vi a primeira peça pronta”.

Quanto ao futuro, admite que para uma estrutura como a Mihso o contexto não podia ser mais desafiante, mas os níveis de otimismo permanecem tão vibrantes como os padrões estampados nas sweats. “É expectável que pelo menos este ano e o próximo, com maior desemprego e contração da economia, tenhamos reduções na procura, sobretudo de produtos menos essenciais, por isso enfrentaremos desafios importantes em termos de gestão da nossa liquidez e pensaremos de forma recorrente os nossos investimentos. No entanto, acredito que as microempresas poderão utilizar a sua agilidade para se adaptarem mais rapidamente a uma nova realidade e a capitalizar as novas tendências que surgirão”.

Sobre novidades nas coleções disponíveis, daqui por um ano espera ter lançado novos padrões e modelos de camisolas, seja para levar a passear ou para colorir o tempo passado em casa.

Nome: Mihso
Data: 2020
Ponto de vendaloja online
Preços: 69,90 euros

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.